NGANDU06

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Localização: Luanda, Angola

Apenas conhecemos o que sabemos comunicar, expressar!

29.6.07

A minha “Global Communication”

Não direi com S. Paulo « combati um bom combate, terminei a minha carreira...», mas, é verdade que mais um desafio da minha vida foi ultrapassado, mais um canudo começa a fazer parte do meu curriculum vitae: acabo de ser licenciado em Comunicação Social Institucional aqui em Roma. As malas já estão feitas para o regresso. E como era de esperar, aqui e acolá, entre amigos, amigas e colegas, chuva de perguntas: « exactamente em que coisa estás formado? Quando partes? A onde vais? O que farás? Estás contente?» E outras semelhantes questões tornaram-se rotineiras ultimamente.

E eu cá vou recitando a mesmíssima ladainha: estou formado em Comunicação Social Institucional. «Mas, o que é “Comunicação Social Institucional”?», insistem outros. Quando digo que formei-me em Comunicação Social Institucional significa que amarrei a gramática e linguagem da corporate communication, no linguajar dalguns profissionais de Relações Públicas; trata-se da Global Communication, ou seja, de um tipo de comunicação integrada e orgânica feita por uma empresa ou instituição pública/privada com a finalidade não somente de marketing, relações públicas ou de mera publicidade, mas, sim visando melhorar a percepção da identidade e do valor da instituição mesma e dos seus respectivos serviços ou produtos, personalidades ou representantes oficiais junto dos seus mais diversos públicos. «Ó kota, só estás a piorar», quexou-se ontem ao telefone um amigo meu, «não compreendo nada dos estudos que acabas de fazer!» Ora senti-me forçado a trocar em kwanzas o que anteriormente lhe tinha dito: noutras palavras, continuei, eu acabo de estudar a gramática, a linguagem e as técnicas de jornalismo, isto é, rádio, jornal, televisão, internet, cinema, gestão interna e externa da informação de uma empresa, instituição, organização não-governamental, associação, etc. « Então o senhor padre vai trabalhar na Radio Ecclesia, né?», disse-me uma freira angolana aqui há seis anos, amarrando psicologia e medicina. « Continuo a não me explicar devidamente», confessei aos botões da minha camisa.

Ninguém me disse que deverei trabalhar na Radio Ecclesia. O que farei depois desses estudos, nem eu mesmo sei, talvez o saiba o meu chefe máximo. «Entretanto, se pretendias saber o tipo de profissão correspondente ao meu canudo actual _ disse eu a madre, _ é o de “adido de imprensa”, digamos». «Adido de imprensa?», perguntou como que eu tivesse dito uma blasfémea. Os profissionais que gerem a comunicação interna e externa das instituições, fazendo de ponte entre os jornalistas e a empresa são geralmente conhecidos por adidos de imprensa, disse em termos miúdos à minha interlocutora.

Etimologicamente, o discurso pode ser interminável e transformar-se numa auténtica confusão. Em termos simples e pragmáticos, a minha “global communication” não passou do “curso trienal de Relações Públicas”, com muita técnica e roupagem mediática e managerial.

De facto, no mundo das empresas, associações civis, políticas e religiosas, instituições públicas e privadas hoje fala-se cada vez mais de Global Communication enquanto comunicação integrada e organizada de uma instituição ou empresa. Em Angola fazem semelhante trabalho os “secretários gerais” de organizações ou instituições. A novidade desafiante da Comunicação Social Institucional consiste em procurar comunicar efectivamente todos os elementos, personalidades, eventos e acções significativas da empresa ou instituição, sem excessiva preocupação com a obtenção de resultados imediatos (como acontece com os mecanismos de marketing ou publicidade). Actualmente, há no mundo mais de 3 milhões desse tipo de comunicadores, e anualmente investem-se cerca de 400 bilhões de euros na Global Communication em todo o mundo, particularmente nos paises industrializados e com democracia dinâmica.

Ora, também a Igreja deve investir tantos recursos materiais e humanos na sua comunicação? Não direi tanto como as outras instituições civis ou políticas, até porque não dispõe de tais meios, mas, enquanto instituição humana e missionária, eu penso que a Igreja Católica se deve preocupar muito com a sua maneira de se comunicar hoje na praça pública, onde os media desempenham uma função própria e insubstituível. Com efeito, a Igreja faz Opinião Pública quando cumpre e realiza a sua missão, e quando evita que a sua identidade e missão sejam transcuradas ou deformadas pelos media. Por isso, como incentivava o saudoso Papa João Paulo II, temos de procurar integrar a própria mensagem cristã no actual contexto cultural fortemente influenciado pelos media, começando por compreender a sua linguagem, técnica e sua lógica; doutro modo, penso eu, a fé cristã será cada vez algo privada e de uma minoria insignificante. Penso que hoje não basta procurar ter a visibilidade institucional, é preciso que se crie um «espaço de atenção» capaz de favorecer uma cultura de diálogo e de serviço com e através dos media, para o bem da dignidade das pessoas. Nisso, penso que a Comunicação Social Institucional pode enriquecer o já alto grau de responsabilidade social da Igreja Católica e proporcionar outras mais valias para a própria Igreja em relação ao aumento de credibilidade e confiança junto dos próprios fiéis, doutras instituições e na Opinião Pública.

Em fim, não me é possível responder pormenorizadamente todas as questões que me têm sido endereçadas ultimamente. Aproveito esta ocasião para agradecer do meu profundo coração a todos quantos tenham contribuido para o meu sucesso académico. De facto, contraí muitas dívidas de gratidão durante estes três anos de formação. A minha missão aqui em Roma não teria este fim feliz, sem ajuda financeira, económica, moral e espiritual de muitos homens e mulheres, conhecidos e desconhecidos por mim. Não cito nomes nem categorias pelo receio de vir a ser impreciso e descriminatório em relação àlguns desses amigos e benfeitores. A todos quanto eu tenha directa ou indirectamente ofendido ou prejudicado, as minhas sinceras desculpas. Nunca foi minha intenção magoar alguém. E aos que, com palavras ou atitudes, me tenham instrumentalizado ou prejudicado na alma ou no corpo, coloco-os nas mãos misericordiosas de Deus. Penso que o terão feito por ignorância, preconceito ou mero egoismo. Aos meus leitores e visitadores deste Blog, o meu muito obrigado pelas vossas visitas de cortesia. Para mim, é sempre um prazer partilhar-vos estes argumentos. Oxalá possa eu encontrar tempo e vontade para continuar a fazer o mesmo quando estiver em Angola.

26.6.07

O Business da SIDA em África

Além da imagem duma África infestada de guerras, conflitos e fomes, para muitos ocidentais, África negra é substancialmente um continente doente. Para muitos desses, a pior tragédia dos africanos é a Sida. A grande máquina publicitária e de marketing montada para recolha de fundos, a prior, a beneficiar os ditos afectados ou vitimados pelo virus do HIV/Sida semea de que maneira essa imagem sídica de África. Entre nós sabe-se porém que as doenças epedémicas a preocupar tudo e todos não é primeiramente a Sida, mas sim a malária.


Kary Mullis, americano prémio Nobel de química, diz que se faz muito barulho sobre o Aids. Segundo ele a Sida é menos agressiva do que se diz. A dado passo da sua intervista que concedera ao quotiano “Metro” confessa: «quando se vê a África, fala-se dos órfãos de Sida. Não, aqueles são órfãos porque lá a vida média é baixíssima, porque lá há malária e tuberculose, porque não há água potável nem higiene». Thabo Mbeky, presidente sul-africano, anos atrás já defendia semelhante tese, mas, quase ia sendo engolido vivo pela fúria dos lobbies das ONGs e Indústrias farmacéuticas do “produto Sida”.



Os números produzidos pelas mesmas organizações humanitárias podem-nos dizer que a Sida não é a causadora principal de mortes em África. Fala-se de 23 milhões afectados pelo Sida na África subsahariana. Em relação ao paludismo, 500 milhões dos 689 milhões africanos padecem anualmente da malária, dos quais um milhão morre em cada ano. 90 % dos óbitos em África é causada pela malária, dos quais 20 % das mortes são crianças abaixo dos 5 anos de idade. A pensar-se bem, estamos perante uma silenciosa tragédia, um completo e injustificável holocausto, pois, a malária pode ser irradicada, e tudo isso não devia acontecer. Aqui na Itália havia também focos palúdicos até aos anos 50, mas, nos anos 60 eliminaram-nos totalmente. E por que não se faz o mesmo em África ao invez de se insistir nestas campanhas paliativas que servem apenas para engordar os negócios dos senhores das farmácias?



Em Angola, a malária afecta anualmente cerca de 3 milhões angolanos, dos quais cerca 20 mil convertem-se em defuntos. A Sida afecta somente 13 mil pessoas, segundo os dados das autoridades sanitárias angolanas. Entretanto, os programas de combate e prevenção da Sida recebem dois terços dos milhões que o Banco Mundial “oferece” para cura e prevenção das doenças endêmicas em Angola. A propósito, foi construida uma sede nacional imponente de luta contra a Sida em Luanda, e o Governo angolano projecta inserir uma disciplina de «Sexualidade e Sida» no sistema educativo angolano, e tem havido muita pressão no sentido de se aumentar a fatia financeira do orçamento estatal para luta contra a Sida. Curiosa e paradoxalmente, não existe a mesma atenção e cuidado preventivo e curativo em relação à malária, à doença de sono e a tuberculese, as principais causadores de mortes e abstenção laboral no país! Não sou contrário ao gigantesco esforço de tratamento e prevenção de Sida, mas penso ser injusto alocarem todos os esforços humanos e materiais nessa luta, quando a maria de gente morre de malária e tripanosomíase em Agola. Por isso, sempre me pergunto sobre o por que dessa desproporção e desatenção.



As respostas são muitas. As menos complexas, é que o lobby da Sida é mais forte porque é uma doença que toca e sensibiliza a todos, ricos e pobres; a malária é coisa dos ditos atrasados e miseráveis. A malária é curável e pode ser irradicada, se houver vontade política e económica; A Sida ainda não é definitivamente curável. Há grandes ONGs e farmácias multinacionais por detrás das campanhas sobre a Sida, são lobbies de pressão política e económica muito mais fortes do que os grupinhos da luta pela irradicação do paludismo. Como se isso não bastasse por si só, aos media, através dos seus mecanismos de agenda setting e framing, apetece mais difundir os programas e eventos ligados à Sida do que as “problemáticas marginais” dos milhões africanos afectados pela malária. Em suma, há indústrias, cientistas, expertos, voluntários, colossais financiamentos, pesquisas, uma complexa rede de gentes, programas e agendamentos relacionados com o fenómeno “Sida africano”. Para além do bem proporcionado por estes agentes, os nossos políticos e pensadores deviam estar mais atentos para que as agendas estrangeiras e alheias à realidade dos seus respectivos paises não se sobrepusessem às verdadeiras problemáticas sociais, sanitárias e económicas dos nossos paises africanos.

20.6.07

O Roque Santeiro Virtual

Eu era muito dado às viagens, curiosidades e aventuras, na minha adolescência. Entretanto, nunca consegui realizar o sonho de atraversar o rio kwanza, a natação (em Cabala) a causa do medo dos jacarés. Outra aventura que tencionava em vão fazer era girar a sós pelo Roque Santeiro, considerada a segunda praça maior do continente africano, depois da do Lagos, Nigéria. Para além do medo dos eventuais assaltos, a vastidão e a multidão do mercado pareciam-me incontornáveis. Tinha medo de lá ir sozinho. Parecia-me um mar de gente e coisas sem confins.


Sinto hoje a mesma sensação quando navego na Internet. A imagem do espaço cibernéutico como o Roque Santeiro me parece perfeita, descontando naturalmente o caos informal do “nosso super-mercado”. Se os confins da Internet são apenas imaginários, pois, seus espaços são de certo modo bem delimitados, por outro, na praça de Internet há de tudo quanto se possa imaginar. Os dinheiros e polícias virtuais já estão sendo popularizados para se garantir cada vez mais as transações económicas e financeiras, para se assegurar a livre e segura circulação de pessoas e bens.


A informação difusa na Internet através de sites e portais informativos e outras formas de publicação online é a mais directa, rápida e com tendências hoje muito mais influentes do que os meios tradicionais, sobretudo entre a camada juvenil. Desde os anos noventa, esse fenómeno verifica-se também em Luanda onde dia e noite, blogs e sites privados, públicos e institucionais nascem como cogumelos e onde são direccionados outros tantos vindos dos quatro cantos do mundo. A propósito, já existem em Angola comerciantes que compram e vendem seus produtos aos americanos e europeus sem sequer sairem dos seus próprios gabinentes.


O baixo custo económico, a grande fluibilidade e liberdade de expressão têm sido as grandes conquistas e atracções de vendas e compras, publicações e navegações na Internet. Entretanto, continua igualmente a pesar a generalizada ignorância de imensa quantidade informativa armazenada na internet, e a alegada liberdade é também essa limitada na forma e no conteúdo das técnicas usadas pelos proprietários (os chamados “motores de pesquisa”), basta notarmos a título indicativo a censura virtual exercida na China.


A informação online é a partida global, mas, no concreto, é seleccionada e dirigida a um público reduzido e bem preciso no tempo e no espaço físico ou cultural. Norma comum, são informações a mão e gratuitas, embora algumas sejam ainda acessíveis somente a pagamento. Muita publicidade (pay-per-click) está sendo encaminhada para Internet.


As três línguas mais usadas na rede virtual são a japonesa (37%), inglesa (36%) e chinesa (8%). Esses dados são importante para quem deve fazer negócios na Internet, caso considere os seus públicos ou clientes. A linguagem da Internet é multimedial (escrita e audiovisual). Mas, o seu conteúdo é de pouca consistência e credibilidade, quando não se conhece a seriedade nem a responsabilidade institucional, social ou profissional da pessoa ou entidade que o produz e o difunde na Internet. Segundo alguns críticos, na Internet circula muita falsidade e tem sido um meio privilegiado para se atacar e fazer-se críticas gratuitas à grandes instituições e personalidades. Entretanto, para muitos expertos em comunicação institucional, a Internet é um grande ambiente para se criar bens e serviços, para se desenvolver e meter-se em relações eficazes com os diferentes públicos das instituições públicas, privadas e sociais. Outros entendidos na matéria como Bill Gate adiantam que num futuro breve a comunicação social estampada e audiovisual será publicada quase toda na Internet. Está-se por ora melhorando os aspectos técnicos ligados ao endereçamento publicitário via online por forma a garantir-se aquele propósito. O próprio fenómeno de blogosfera faz já pensar no grande potencial comunicativo e económico da Internet. Para além de ser um grande espaço de promoção de negócios, Internet é igualmente um lugar privilegiado para a chamada «comunidade técnico-científica», até já existem grandes Universidades virtuais; e o actual fenómeno do comércio electrónico está transformando-a em Roque Santeiro global na ponta dos nossos dedos.

14.6.07

Missões africanas atraem jovens europeus

A solidariedade laical ou cristã da juventude europea é um fenómeno em rápido crescimento. Milhares de pessoas com idade compreendida entre os 18 e 65 anos fazem no verão o chamado “turismo responsável”, dentro e fora da Europa. Só na Itália, o fenómeno de voluntariado movimenta anualmente mais de 400 milhões de euros para mais de 32 mil associações, ONGs, entidades filantrópicas e outras organizações não lucrativas de utilidade social.

Desde que cessou o serviço militar obrigatório, muita juventude tem sido aconselhada a fazer sua experiência pessoal ou colectiva no chamado «serviço civil nacional» que é um serviço voluntarista através de organizações não lucrativas que proporciona a realização de diversos projectos em países ditos do terceiro mundo ou mesmo aqui na Europa. Esse tal voluntariado nacional ou internacional é geralmente feito no verão, concretamente no mês de Agosto, quando estudantes e trabalhadores estão todos de férias; e tem sido antecipado por cursos específicos em virtude dos projectos ou eventos proporcionados, também para compreensão dos usos e costumes do país destinatário. Há os que fazem essa tal experiência num largo de seis ou doze meses sucessivos.

Apoiando a esta oferta crescente da juventude, estão organizações de solidariedade, paróquias, congregações religiosas e associações universitárias, que, além de se responsabilizarem pela iniciativa, colaboram na organização dos projectos e acções, desde os contactos com as associações, Igrejas e outros organismos locais desses países, até à escolha dos jovens e respectiva preparação espiritual e humana.

O que é que atrai essa malta toda a essas estranhas missões e terras? Aqui, uma franja significativa da juventude é inconformada com o status quo dos seus respectivos paises em relação às políticas sociais internas e externas. Outra anda agastada com as modas consumistas, do “politicamente correcto”, e não faltam os que se entregam a essas aventuras somente para quebrarem os monótonos jigsaws e desfazerem-se dos estresses familiares, sociais ou laborais. Quase todos porém dizem experimentar algo muito especial no contacto com gente pobre, miserável, necessitada e de cultura diversa das suas. Muitos partem com o propósito de ajudar pessoal e materialmente a essa desgraçada gente, mas, de regresso, sentem-se mais reconfortados, animados e enriquecidos por dentro. É uma experiência de recíproco conhecimento que permite por outro, da parte do voluntário, a aquisição de novos conhecimentos e competências, úteis para crescimento de sua personalidade, enriquecimento do seu curriculum vitae e o aumento das suas perspectivas de inserção laboral. Em muitos casos, abrem-se os olhos a novos valores, que os levam a reflectir e a transformar as suas próprias vidas e profissões.

Nos paises pobres, os voluntários europeus dedicam-se comumente ao auxílio nas actividades de assistência social e sanitária, beneficência e instrução ou formação, em particular nos centros de acolhimento de crianças de rua, centros sanitários, hospitais e noutros projectos de assistência alimentar e escolar de ONGs locais. A impressão que tenho é que muitas organizações civis e religiosas que acolhem esses voluntários naqueles paises não estão devidamente organizadas quanto aqui é organizado o “serviço civil” ou “voluntariado internacional” por forma a que se possa aproveitar mais e melhor o tempo, a disposição, o know-how e a energia desses corajosos jovens, em benefício das pessoas realmente carentes e necessitadas. Aqui na Europa, realizam-se também serviços civis de voluntariado tais como a salvaguarda do ambiente e dos animais, protecção civil, assistência de crianças e velhos em dificuldades, mas, é um serviço bem estruturado e eficiente, e parece ser até profissional. E por que razão não se faz o mesmo com o “voluntariado internacional” operado na América-latina e na África?

9.6.07

A Diáspora angolana proibida votar por falta de condições políticas

No próximo dia 15 de Junho, o registo eleitoral dos angolanos entrará na sua segunda e última fase, a durar até o dia 15 de Setembro deste ano. A prorrogativa é justificada com alegamentos de que nenhum angolano deve ficar sem o seu cartão eleitoral por razões alheias a sua vontade. Infelizmente, essas razões não foram tidas em consideração quando se tratou dos cerca de cem mil almas angolanas actualmente no estrangeiro.


É direito de todo angolano adulto votar naqueles que os devem governar. É obrigação do Governo criar condições materiais para que essa cidadania seja exercitada por todos angolanos, mesmo os que se encontram em lugares mais recôndidos do país. Estou a propósito a pensar nas zonas de difícil acesso como as de Kuilo-Futa(Uíje), Nambwangongo (Bengo) e de Londwimbali (Huambo), só para citar algumas. Entretanto, não compreendo por que motivo os angolanos residentes em Portugal, França, Brasil ou em Holanda (só para citar lugares de maior concentração angolana) não devem exercer a sua cidadania nas próximas eleições legislativas e presidenciais. Em cada um desses paises deve haver mais de 9 mil angolanos. E é a única ocasião que têm de participarem na palítica do seu país. Por que os deixar de fora nessa fase decisiva?



O Governo angolano alega falta de condições materiais para que a diáspora angolana exerça o seu direito. Pensa existirem muitos cidadãos angolanos no estrangeiros sem Bilhete de Identidade e sem a sua inscrição consular nas respectivas Embaixadas angolanas. Diz ainda ter tentado fazer um inventariado dos angolanos na diáspora para eventual atribuição de documentos. Ora isto quer significar que muitos angolanos aqui na Europa, América, Ásia ou em África são ilegais, segundo o Governo. Tais acusações além de serem gratuítas e difamatórias em relação aos angolanos no estrangeiro, são igualmente insultuosas quanto aos paises acolhedores, pois, ao menos os acusam de receberem “angolanos ilegais”, sem documentos que os identifiquem como angolanos. Por outro, as desculpas do Governo angolano revelam também a confusão e a ineficácia organizativa e operactiva das Embaixadas angolanas naqueles paises.



A parte estas precipitadas escapatórias do Governo, sabe-se porém que tais desculpas não passam de artifícios políticos para se justificar o afastamento compulsivo dos angolanos na diásporas do próximo escrutínio. Não deixam porém de ser desculpas de mau pagador.



É verdade que o Governo angolano não sabe realmente quantos angolanos estão no estrangeiro, é verdade que deverá existir um punhado de angolanos sem B.I. (o que porém não significa a falta de qualquer documento que os identifique angolanos). A grande verdade porém é que o Governo angolano nunca fez um estudo sério sobre o estado dos angolanos na diáspora. Os dados das próprias Embaixadas, a respeito, não passam de meras estimativas. Isto para não falar da alegada tentativa de se fazer algo para que os angolanos fora de casa votassem. Se o Governo sabia da “falta de condições materiais”, por que razão não criou tais condições? É sua obrigação, enquanto Governo. Há mã fé. Não ouve vontade política para que nós no estrangeiro votássemos. Identificar e registar os angolanos aqui no estrangeiro é fácil. Se a diplomacia angolana não conhecer nem saber o paradeiro dos seus concidadãos, os órgãos ou instituições públicas do respectivo país afintrião lhes podem dar uma ajuda em 48 horas. Aqui as instituições públicas e civis estão bem organizadas. Conhecem os imigrantes e as suas respectivas proveniências. Em Holanda há até sociólogos com obras e estudos dedicados exclusivamente a comunidade angolana naquele país. Portanto, registar e conceder cartões eleitorais no estrangeiro é tão fácil quanto o registo dos FAAs nas respectivas Unidades.



Mas, por que motivo é que o Governo angolano deveria desperdiçar tantos votos no estrangeiro, desculpando-se com a inexistência de condições materiais? As razões podem ser várias. A mais generalizada e difusa reza que o Governo do MPLA, directamente guiado pelo presidente José Eduardo Dos Santos, no poder há quase 30 anos, não tem esperança de vir a ganhar na diáspora, embora muitos estejam lá a estudar e a trabalhar a mando do próprio Governo. Pensa-se que os angolanos da diáspora sejam muito avisados e críticos em relação ao status quo do actual regime governativo e que gostariam ver Angola mais democrática, mais transparente, mais participativa, mais dinâmica e economicamente progressiva. Já lá se foram cinco anos desde o alcance da paz efectiva, uma inteira legislatura, mas o abismo entre os angolanos ricos e os miseráveis é cada vez mais assustador. A economia catalizada apenas pela indústria petrolífera diz-se crescer vertiginosamente, sem contudo rever-se na melhoria das infra-estruturas do país e da vida das populações. A oligarquia presidencialista está cada vez mais fortalecendo os seus poderes políticos e económicos, e as perspectivas dum futuro risonho para todos angolanos continuam sendo uma miragem. Os estrategos do MPLA sabem que a classe média de Luanda e da diáspora é descontente com esta situação, pelo que precisa usar todos artifícios a sua disposição para vender cabuenhas e ganhar amanhã todos tubarões de Angola. Só assim posso compreender a razão da exclusão dos angolanos no estrangeiro.

5.6.07

Os monstros europeus

Os designam carinhosamente “Hybrids” e “Chimbrids”. São embriões resultados da soma de material genético humano com os óvulos animais a causa da chamada liberdade de pesquisa científica. Colocam-se as questões legais e éticas, mas, servem apenas para distrair os menos atentos e fazer-se com isso mais publicidade. A história é sempre quase idêntica. Como noutras caças de células estaminais, diz-se que os embriões desses hybrids poderão produzir substâncias medicamentosas ou sei lá o quê para beneficiar gente carenciada e necessitada de tais produtos, ou simplesmente para escopos de manipulação científica.

Segundo o jornal italiano avvenire, grandes lobbies farmacêuticas e científicos vão dando empurrões a estas experiências na Europa. Há dois hanos, formou-se uma comissão de 25 expertos designada «Hybrids & Chimbrids in Corporative European and International Research» que já terá gasto mais de 600 mil euros neste tipo de hibridação de genes humanos com os de animais. Em próximo Setembro, esta comissão deverá publicar os resultados definitivos das operações ora em curso.

Entretanto, o governo británico já aprovou a lei que apartir de Novembro deste ano autorizará a pesquisa científica com os embriões da fusão dos genes humanos com os dos animais, os ditos «cybrids». Pensa-se que esta pesquisa venha a produzir celulas estaminais para se curar doenças como parkinson, huntington e outras.

Mas, não se fica por aqui, a fecundação de óvulos de coelhos ou cágados, por exemplos, com os espermatozóides humanos já é feita nos laboratórios, aguardando apenas o aval dos governos para seus fins dito científicos ou medicinais.

Muita gente no entanto pensa que devia-se meter um pouco de freio a essas curiosidades científicas, reconhecendo-se os limites da ciência. De facto, nem tudo que é tecnicamente possível é eticamente viável. Outros além de considerarem inúteis e imorais essas experiências científicas, acham mesmo que os monstros criados nestes laboratórios podem ser perigosos para a sociedade.

Há aqui na Europa sonhos muito ambiciosos que podem custar muito curo a todos. Os velhos não querem mais ter rugas na sua velhice. As velhas pretendem ser eternamente jovens. As senhoras não querem sentir dor materno, outras nem sequer têm tempo para a tal gestação, alugam úteros ou recomendam a tal fecundação in vitro. A vontade de se apagar a dor e proporcionar-se mais e maior prazer é forte. E não faltam pessoas dispostas a satisfarem tais “necessidades” a todo custo. Há também uma camuflada vontade de perfeição da prole com olhos, sexo, altura, composição do DNA isenta de doenças, etc, previamente solicitados através da tecnologia. E neste fanatismo científico, não falta quem pense realizar o sonho de Nietzche ou Hitler de vir-se a fabricar uma raça pura ou ao menos um súper-homem. A esse andar, não me surpreenderá nada se um dia desse ouvir que naqueles laboratórios de manipulação humana saltou um virus x ou um monstro y a fustigar os seus criadores.