NGANDU06

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Localização: Luanda, Angola

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17.11.06

MARIA PINTADA PRETA POR DEVOTOS NA EUROPA

Aos 1200 metros de altitude, encontra-se o Santuário mariano chamado “Madonna Nera” ou simplesmente Oropa, com gigantesticos edifícios de pedras antigas e um panorama que dá gosto à vista. Estamos a escassos quilómetros da cidade industrial de Torino, na Itália. À noite, dá sensação de todas cidades italianas estarem debaixo dos nossos pés. O lugar é fabulosamente fenomenal. Terá começado a ser considerado sacro nos anos 700, depois de Cristo, mas, a primeira Capela foi apenas erguida no XII século. Hoje a obra é gigantestica, com bares, hoteis e casas de peregrinos abundar exageradamente. Diz-se que somente o Ospício contém mais de cinquenta mil camas confortáveis para peregrinos e forasteiros. A cobertura feita somente de pedras é estranha a mim, mas, magnífico aos olhos. Os riachos em torno dos edifícios tornam-se música à noite.

A sacralidade do lugar confunde-se porém com o turismo, desporto e outros lazeres. Segundo contas da reitoria, cerca 1,5 milhões de peregrinos/ano visitam o Santuário da Nossa Senhora Negra.

Um letreiro debaixo da imagem antiga da ‘Madonna Nera’, esculpida em madeira de cedro, esclarece: ‘nigra sum sed sum formosa’ como que o ser negra fosse sinónimo do ser feia! Acredita-se que a ‘sacra esfige da Madonna Nera’ tenha sido esculpida pelo evangelista S. Luca; e que teria sido levado de Jerusalém a Oropa no XIV século pelo S. Eusébio, então bispo de Bercelli, por razões de segurança e dovoção, já que no médio oriente havia muita instabilidade. Entretanto, outra tradição reza que no IV século a imagem era já conhecida e venerada no monte sacro de Oropa! E que os recentes testes dos expertos consideram a obra ter começado a existir desde o primeiro século depois de Cristo.

Oropa não é o único santuário de Itália com veneração popular de ‘Madonna Nera’. Deviam ser mais de três santuários, sem contar os de Polónia, Alemanhã e Espanha, na Europa.

Mas, por que razão uma senhora israelita, Maria, foi pintada a preta, nestas milenares tradições? A história reza que a mãe de Jesus Cristo terá sido morena, não preta como se lhe pinta essas milenares tradições de devoção mariana. Ora, por que razão se venera muito aqui na europa a “Maria preta”? Essas imagens negras de Maria terão sido inspiradas pela negritude africana ou medio-oriental? Ou simplesmente deve ser uma imaginação devocional?

As justificações são muitas. Duas porém são difusas. A primeira é dos padres da Igreja, e funda-se no livro bíblico canto dos cânticos em que a enamorada, alusão a Maria, se considera ‘negra, mas bela’. A segunda apoia-se numa antiga tradição espiritual europea segundo a qual Maria se considerava escura por razões de humildade, para não se fazer notar e mantar-se na sombra, dando assim espaço ao seu filho, Jesus. Dái ter iniciado, com grande difusão, na idade média, a pintura e veneração da Madonna Nera, na Europa. Curioso!

E tem mais: na sacristia da mesma capela da Madonna do Santuário de Oropa-Biela vê-se um grande quadro moderno e piedoso em que se destaca um negro acorrentado, com xifres, cauda e pêlos, pintado a diabo. Curioso! A história tem paradoxos irónicos!

16.11.06

Orações Suspensas a Causa de Negros em Polonia

Una volta in Polonia, mi sono sconvolto di tristezza guardando l’industria letale di Hitler in Auschwitz. Ma la ‘tenerezza’ dei polachi verso ai neri mi ha riempito di emozioni anche scovolgenti.

Mal tinha posto os pés em Roma, Matilda e Michel insistiram comigo para um fim-de-semana em Polónia entre 4 e 8 de Outubro passado. Consenti, sem grande entusiásmo. Desfiz-me da habitual burocracia documental, e segui.

Uma vez em Cracóvia, o entusiásmo voltou e os dias começaram a sorrir-me. Cracóvia é a cidade económica e turística de Polónia, disse-me o colega Michel que também fazía-nos de guia.

Quinta-feira fomos visitar o famoso Santuário de ‘Jasna Góra’ em Czestochowa , aonde se venera a ‘imagem milagrosa de nossa senhora negra’ há mais de sete séculos. A cidade era frenética nos seus deveres. O Santuário empinhado de gente, na sua maioria peregrinos polacos.

Não me passou despercebido um pormenor estranho: na cidade de Czestochowa, as pessoas estranham ao ver negros nas suas ruas! Éramos dois africanos na nossa caravana. Impressionou-me ao notar que muita gente parava somente para nos olharem. No santuário, os peregrinos suspendiam suas devoções para nos contemplarem com olhos surpreendentes como se fóssemos um dos magos naquele lugar! Senhoras mais atrevidas e assanhadas não se continham, vinham ao nosso encontro para nos abraçar e saudar espontânea e efusivamente, o que as vezes me criava certos embaraços!

Dia seguinte arrumamos para Auschwitz, uma cidade bastente verde e movimentada por várias indústrias, mas cheia dum passado horrível. O céu era colorido do azul. Dentro porém do museu da morte de Auschwitz o ambiente era fúnebre. Mais de um milhão e quinhentos mil pessoas queimadas alí! Os vestígios da ‘Fábrica de morte’ de Hitler foram tão fortes em nós que tivémos todo o dia de sol triste. Alguns entre nós não conseguiram comer a causa do impacto do que tínhamos acabado de ver com os nossos próprios olhos. Ficamos chocados e perturbados por dentro.

Sábado era outro dia. Sacudimo-nos da pesante poeira do passado dia. Traçamos e seguimos a nossa nova agenda. Fomos acolhidos solenemente pelo Muzum Zup Krakowskich. Uma mineira antiga de extração do sal. O lugar tornou-se fenomenal e único no mundo a ponto de receber mais de um milhão turistas por ano. Descemos a pé até 136 metros de profundidade. No percurso, fomos brindados com imagens espectaculares das obras extraordinárias daqueles antigos mineiros e artistas. Tudo feito e decorado a sal, até uma enorme e brilhante capela! Nos apercebemos que afinal o sal não era útil somente na cozinha, mas também na arte e arquitectura. Tanto é assim que uma colega decidiu e prometeu-nos construir para si mesma uma casa de sal, hornamentada com objectos somente de sal.

Domingo regressamos a Roma, depois, de termos aturados por horas a fios os carrascos polizziotti polacos. Não obstante a papelada toda estar como ordena a lei deles, os tipos não cessavam de nos espiarem e amordaçarem com perguntas estúpidas e provocadoras. Para eles, negros e iraquianos constituiam perigo nos seus torritórios. Não deixam porém de serem matumbos e preconceituosos, pois, nem sequer conheciam a existência do Ivory Cost e ignoram que os terroristas usam sempre passaportes europeus e americanos.

O ‘FENÓMENO SINGLE NA EUROPA’

Il fenomeno di single in Europa è diffuso e aprezzato. Sono più di cinco milioni singles solo in Italia.

In Africa la solitudine non è mai ammessa come cultura.

É um fenómeno que me suscitou atenção na Irlanda, e aqui na Itália ainda mais. Tenho visto, para minha admiração, muita gente solteira. Certo, já ouvira dizer que na Europa havia não pouca gente ‘single’. Uma coisa porém é ouvir, outra bem diferente é conviver com essa gente. É um fenómeno estranho para um africano que procura sempre dar ao largo a ‘força de vida’. Na África, quase 97 por cento dos nascidos se casam. Salvo raras ecepções, o solteiro é tido por feiticeiro, não é bem visto na comunidade. Por isso, me cria muita curiosidade o ‘culto de single’ no mundo ocidental, e gostava saber por que razão esse pessoal se decide por viver eternamente a sós. Os números são assustadores. Só na Itália são mais de 5 milhoes singles! Comumente são pessoas mui chic, inteligentes e profissionalmente bem sucedidas.

Mary é uma de tantas singles anciãs que conheci na Irlanda. Perguntei-a sobre o que faz com que muita gente se transforme em singles. As motivações são variadas quanto diferentes as tipologias de solteiros, confessou. Salienta haver single por natura (que é o caso dela), por intervenção humana (missão ou decepção) e singles por causa do Reino de Deus (vocação divina).

Pessoalmente sempre acusei os solteiros de egocentrismo, narcisismo e individualismo. Gente pouco séria, com tempo a sobrar para ser gasto em actividades fúteis como viagens, diversão e cura pessoal. Naqueles encontros com solteiros como Mary tive porém de redimensionar esses meus preconceitos. O contacto com os três irmãos singles da Mary e das duas solteiras irmãs do padre Donal me fizeram conhecer outro lado positivo dos singles. Os singles são gente apaixonada no trabalho, volontariado e estudos. Gente agarrada às mais variadas responsabilidades até ao altruismo! Pelo que não sente solidão afectiva nem social. Outros até vao mais longe justificando esse ‘culto de single’ com o status de Jesus, alegando que Jesus teria sido o single por excelência.

Entretanto, os meus esteriotipos não ficaram totalmente desfeitos. No sentido lato, considero single um indivíduo que vive sozinho, numa solidão perpéctua ou ocasional. Tenho single ainda como um eunuco, alguém estéril por vontade própria ou alheia. Desta feita, um single não se sente vazio por dentro? Não se sente moral e psicologicamente em dívida por não ter feito algo comumente considerado importante na vida humana? O facto de muitos solteiros compensarem a solidão com a companhia excessiva de cães ou gatos, encontros e outros tipos de evasões não denuncia certo vazio existencial?

6.11.06

ORGULHO DOS ANGOLANOS RECONHECIDO NA EUROPA

“Por que vocês angolanos não são como os outros africanos?” perguntou-me Déirdre, uma veterana professora na International Study Centre de Dublino. A língua apegou-se-me ao paladar. Fiquei embaraçado.‘Os angolanos não são africanos?’, sismei por uns istantes dentro de mim mesmo.

Enquanto procurava por palavras mais convenientes, repliquei-a: “por que razão me perguntas assim?” Ela justificou-se alegando ter conhecido naquele Instituto um angolano muito alegre da vida e satisfeito com seu país, embora naltura Angola estivesse ainda em guerra; e que nós angolanos, no geral, não tínhamos hábito de permanecer aqui na Europa, quando cá viéssemos estudar, como normalmente fazem outros africanos. Trouxe-me à memória a idêntica constatação de Kapasadi Joseph, jovem congelês estudante de medicina em Roma, que, meses atrás, me tinha confidenciado a distintição dos angolanos em relação a outros africanos por manifestarem sempre desejo de regresso imediato à sua pátria.

De facto, o fenómeno generalizado de ‘fuga de cérebros’ em África não é comum em Angola. Não são pouco os africanos anglófonos que sonham viver em Londres ou Nova Yorque. Os francónos adoram viver em parís e bruxelas. Perderam interesse e gosto pelas suas terras e cidades. Ademais, não se deve encontrar angolanos entre os milhares emigrantes africanos que dia e noite violam as fronteiras europeias na caça de dita ‘melhores condições de vida’.

Tinha percebido o motivo da questão da Déirdre. Ficou-me também justificada a conotação de ‘não sermos como os outros africanos’. Contudo, continuei a não encontrar palavras eloquentes para lhe responder com exactidão matemática. Confessei-lhe apenas que todos angolanos juntos eram poucos para acudirem os desafios da reconstrução nacional e que Angola vivera cinco séculos de colonização e desafricanização, 16 anos de marxismo e desafricanização. Apesar de tudo, os angolanos conituaram sendo africanos, muito sociais, animados, vigorosos, enérgicos, em fim, espirituosos. Talvez a causa do brilho solar, talvez a causa do calor humano e da influência dos seus antepassados africanos. Aqui porém é tudo diferente. As pessoas são mui introvertidas, fechadas, individuais, ‘ordeiras’ e algumas até são frias por dentro, quiçá, a causa do frio invernal. Por isso, cogito eu, um angolano não se sentiria muito a vontade na Europa.

Certo, aqui tudo é lindo e brilhante e até facilitaria a viver confortavelmente, quando nas cidades de Angola quase tudo é só poeira, buracos, escuridão e confusão; ainda assim, o mwangolê prefere essa excitante desordem à calmia sepulcral daqui. O angolano é entusiástico, jovial, e, de facto, mui alegre da vida como muitos outros europeus o reconhecem. Há como que um orgulho nacional e um patriotismo natural nas veias do angolano comum. Faz pena que os nossos líderes políticos não correspondam a essa ansiedade patriótica.

Entretanto, o facto do mwangolê não ter o costume de trocar a sua excitante confusão pelas comodidades ocidentais não significa gostar ou abençoar a miséria e a desordem. Todo mundo quer ser rico e feliz, embora, pessoalmente, preferirei ser pobre, caso a riqueza signifique isolamento, tristeza, indiferença, insatisfação ou nervosismo como aqui tenho constatado em muitos casos.

A nossa Déidre continua ainda pasmada com os sorrisos contagiantes do angolano que conheceu quando esperva dele olhar melancônico e lamúrias tristes. Muita gente abastada devia saber que alegria não é necessariamente consequência de acomulação de bens materiais.