ORGULHO DOS ANGOLANOS RECONHECIDO NA EUROPA
“Por que vocês angolanos não são como os outros africanos?” perguntou-me Déirdre, uma veterana professora na International Study Centre de Dublino. A língua apegou-se-me ao paladar. Fiquei embaraçado.‘Os angolanos não são africanos?’, sismei por uns istantes dentro de mim mesmo.
Enquanto procurava por palavras mais convenientes, repliquei-a: “por que razão me perguntas assim?” Ela justificou-se alegando ter conhecido naquele Instituto um angolano muito alegre da vida e satisfeito com seu país, embora naltura Angola estivesse ainda em guerra; e que nós angolanos, no geral, não tínhamos hábito de permanecer aqui na Europa, quando cá viéssemos estudar, como normalmente fazem outros africanos. Trouxe-me à memória a idêntica constatação de Kapasadi Joseph, jovem congelês estudante de medicina em Roma, que, meses atrás, me tinha confidenciado a distintição dos angolanos em relação a outros africanos por manifestarem sempre desejo de regresso imediato à sua pátria.
De facto, o fenómeno generalizado de ‘fuga de cérebros’ em África não é comum em Angola. Não são pouco os africanos anglófonos que sonham viver em Londres ou Nova Yorque. Os francónos adoram viver em parís e bruxelas. Perderam interesse e gosto pelas suas terras e cidades. Ademais, não se deve encontrar angolanos entre os milhares emigrantes africanos que dia e noite violam as fronteiras europeias na caça de dita ‘melhores condições de vida’.
Tinha percebido o motivo da questão da Déirdre. Ficou-me também justificada a conotação de ‘não sermos como os outros africanos’. Contudo, continuei a não encontrar palavras eloquentes para lhe responder com exactidão matemática. Confessei-lhe apenas que todos angolanos juntos eram poucos para acudirem os desafios da reconstrução nacional e que Angola vivera cinco séculos de colonização e desafricanização, 16 anos de marxismo e desafricanização. Apesar de tudo, os angolanos conituaram sendo africanos, muito sociais, animados, vigorosos, enérgicos, em fim, espirituosos. Talvez a causa do brilho solar, talvez a causa do calor humano e da influência dos seus antepassados africanos. Aqui porém é tudo diferente. As pessoas são mui introvertidas, fechadas, individuais, ‘ordeiras’ e algumas até são frias por dentro, quiçá, a causa do frio invernal. Por isso, cogito eu, um angolano não se sentiria muito a vontade na Europa.
Certo, aqui tudo é lindo e brilhante e até facilitaria a viver confortavelmente, quando nas cidades de Angola quase tudo é só poeira, buracos, escuridão e confusão; ainda assim, o mwangolê prefere essa excitante desordem à calmia sepulcral daqui. O angolano é entusiástico, jovial, e, de facto, mui alegre da vida como muitos outros europeus o reconhecem. Há como que um orgulho nacional e um patriotismo natural nas veias do angolano comum. Faz pena que os nossos líderes políticos não correspondam a essa ansiedade patriótica.
Entretanto, o facto do mwangolê não ter o costume de trocar a sua excitante confusão pelas comodidades ocidentais não significa gostar ou abençoar a miséria e a desordem. Todo mundo quer ser rico e feliz, embora, pessoalmente, preferirei ser pobre, caso a riqueza signifique isolamento, tristeza, indiferença, insatisfação ou nervosismo como aqui tenho constatado em muitos casos.
A nossa Déidre continua ainda pasmada com os sorrisos contagiantes do angolano que conheceu quando esperva dele olhar melancônico e lamúrias tristes. Muita gente abastada devia saber que alegria não é necessariamente consequência de acomulação de bens materiais.
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