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Localização: Luanda, Angola

Apenas conhecemos o que sabemos comunicar, expressar!

16.5.14

As estatísticas na comunicação social

O INE começou a recolher hoje os dados do Censo 2014, que serão depois analisados e publicados. Os dados deste Censo serão úteis não só para tomada de decisões governativas, mas também servirão a política, comércio, educação, saúde, ciência e a outros ramos do saber e fazer.
Na divulgação a ser feita pelos media, é preciso ter cautela para não se vir a confundir burgalhau com alho. Os números apenas demonstram relações, e nada mais. Mas, como a manipulação de dados pode ser tendenciosa, eis aqui alguns critérios de interpretação jornalística e retórica de dados estatísticos (Prieto, 2013: 103):
  1. Em geral, os dados estatísticos podem seleccionar-se, agrupar-se, classificar-se e interpretar-se de diferentes perspectivas de argumentação;
  2. Apresentar os dados por gráficos ajuda a contextualizar, comparar e acentuar visualmente as diferenças dos números. Infelizmente, os gráficos desapareceram das nossas telas e jornais;
  3. A utilização de valores muito elevados ajuda a entender os contextos das cifras e acentua as diferenças extremas com outros dados, ou seja, mencionar por exemplo os milhões de votos que apoiam um partido normalmente produz mais efeito do que referir apenas a percentagem de votos que representa;
  4. Quando se diz a “maioria”, pode-se estar a falar, por exemplo, tanto de 15%, se se referir a diversas possibilidades, como de 51%, se estiverem em causa apenas duas alternativas.
Nunca é demais perguntar-se, caro jornalista, como os dados foram colectados e se os resultados finais são ou não confiáveis. Para mais dicas, leia também o Manual do Jornalismo de Dados.

8.5.14

O POVO DO SUL CONTINUA A MORRER DE SECA

Alguém em Luanda está a ouvir o grito de fome e seca dos povos do sul?
Abaixo a fome!
Abaixo a sede!
Abaixo as assimetrias regionais!
Abaixo a indiferença!
Viva a terra!
Viva a água!
Viva o povo sulano de Angola!

1.5.14

A Igreja Católica em Angola entre apatias e letargias

Há uma semana, a Igreja Católica em Angola tem estado na mira dos media nacionais e não só. Dia 27 de Abril, foram canonizados Santos os então beatos Papa João XXIII e João Paulo II na cidade do Vaticano; e Angola esteve representada com uma delegação parlamentar de alto nível. Dom Damião Franklin, Arcebispo metropolitano de Luanda, morreu aos seus 63 anos de idade nesta segunda-feira. Amanhã o Presidente de Angola terá um encontro de cortesia com o Papa Francisco na cidade do Vaticano e visitará depois o túmulo de António Manuel Nvunda, “O Negrita”, na Basílica de Santa Maria Maior. Lembrar que o famoso Negrita da Itália representa uma história política e religiosa de grande destaque para Angola e África. Reza a história que Nvunda foi o primeiro embaixador dum soberano negro-africano ao sul de saara junto da Santa Sé. Chegou a Roma em 1604; e foi recebido com pompa e circunstância pelo então Papa Paulo V e habitantes da chamada Cidade Eterna. Mereceu mesmo uma passeata pelas principais avenidas de Roma.
A Igreja Católica está em Angola desde o século XV. Mereceu a atenção especial dos dois recentes Pontífices, tendo sido visitada oficialmente por João Paulo II em 1992 e Bento XVI em 2009. O Governo de Angola, chefiado por José Eduardo Dos Santos, tem-se auto-exorcizado perante a Igreja Católica desde o início dos anos 90, restituindo os bens da Igreja confiscados nos finais dos anos 70 e oferendo bens materiais e financeiros às entidades eclesiásticas desta mesma congregação religiosa. Mas, a meu ver, a Igreja Católica, na pessoa da CEAST, não tem sabido tirar proveito a esse namoro interesseiro do Estado angolano nem tem aproveitado da melhor forma o clima favorável das boas relações entre o Vaticano e o Estado angolano. No entanto, o Governo de Dos Santos tem tido enormes ganhos políticos e da imagem institucional.

Angola é o primeiro país cristão na África subsariana, quiçá, o país com maior número de praticantes do catolicismo nesta região. Mas falta à Igreja de Angola de hoje muita visão e acção. Não obstante as vantagens e os contextos favoráveis acima indicados, a Igreja Católica angolana não tem sequer um Concordato entre a Santa Sé e o Estado de Angola; a Igreja Católica em Angola não tem nenhum Santo ou beato canonizado, nem sequer uma causa na Congregação dos Santos (mesmo com tantos catequistas, irmãs e sacerdotes mortos em nome da fé na então perseguição do comunismo marxista-leninista dos anos 70 e 80). Os tribunais eclesiásticos são inoperantes, inexistentes noutras dioceses, mesmo havendo pessoas mortificadas no seu matrimónio que, por vezes, haveria uma saída para o bem das almas; as dioceses não têm as economias e patrimónios organizados e dinâmicos; as dioceses vivem de esmolas e não têm investimentos sustentáveis. O dossiê da expansão da Rádio Ecclesia não tem pernas para andar. A autoridade moral da Igreja Católica (outrora incontornável e apreciada pela população) tem vindo a ser negociada e ensombrada pelos agentes da maçonaria. Em termo de administração eclesiástica e pastoral, não se faz o suficiente. Há claramente uma letargia no nosso magistério. A continuar assim, o catolicismo deixará de ser a religião mais praticada em Angola. E não tardará o muçulmanismo ganhar terreno.