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12.11.12

O MPLA GANHOU TAMBÉM NA PERSUASÃO RETÓRICA SEGUNDO PESQUISAS DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

No passado mês de Agosto, 76 estudantes do 2º Ano de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Sociais da UAN seguiram de perto a propaganda política dos partidos e coligações que participaram das últimas eleições gerais. O trabalho da cadeira de “Retórica e Argumentação” visava a monitorização da capacidade persuasiva dos partidos. Apresentados os trabalhos e discutidos os resultados, chegou-se a conclusão de que a máquina propagandística do MPLA teve igualmente êxitos melhores na perspectiva de argumentação retórica., embora isso não seja a causa necessária da vitória daquele partido, pois, segundo o discente Milton (2012), o elevado número de iletrados no país não facilita a compreensão dos argumentos políticos esgrimidos. “ Há uma aderência e consequentemente voto por afinidades de outra ordem e não propriamente por se estar convencido pelos argumentos de palavra”, justificou aquele estudante. Contudo, o MPLA esteve melhor na fotografia da última campanha eleitoral. Terá investido milhões de dólares na sua campanha. Mandou vir de Brasil e Portugal peritos em marketing. “Crescer mais e distribuir melhor” foi o slogan principal. Os presidentes dos seus eventos e comícios eram escolhidos a dedo. Pareciam ser joviais, alegres, sensíveis, experientes e responsáveis (argumento de ethos). O argumento prático aliado ao de quantidade e qualidade estava bem patente: o país parecia ser “um canteiro de obras”; faziam-se inaugurações por todos os cantos e em cada hora; o MPLA era omnipresente em quase tudo, até nalgumas Igrejas (argumento não técnico de presença efectiva); o país todo parecia estar pintado de vermelho, preto e amarelo (argumento simbólico). O favoritismo dalguns legisladores, dos media públicos e a instrumentalização dalguns meios do Estado como sobas, militares, edifícios e transportes públicos foram outros artifícios de mobilização do “M” (argumentos extra-retóricos). No geral, os espertos do MPLA evitaram os argumentos de refutação/negação e de promessas concretas. Os entimemas antiquados como “o MPLA é o povo porque o povo é o MPLA” e “o mais importante é resolver os problemas do povo” fizeram-se ainda ouvir aqui e acolá. A recém-criada coligação CASA-CE vem logo a seguir segundo aqueles estudantes. O carismático Abel Chivukuvuku, almirante “Miau” e Lindo Tito pareciam ser simpáticos, bonitos, maduros e eloquentes, normalmente acompanhados por jovens alegres e insatisfeitos com o status quo do país (argumento de ethos e modelo). As cores amarelinhas, os militantes e amigos da CASA mostravam-se reluzentes, entusiasmados e atractivos na TV e nas ruas das cidades (argumento simbólico, de analogia e modelo). Diziam querer a “mudança” para “salvar a Pátria”; anunciavam acabar com a corrupção institucionalizada, levar a água e energia a todos os angolanos em cinco anos, aumentar a idade de entrar na função pública e revisar a constituição actual. Usaram com frequência os argumentos de refutação em relação aos ditos e actos do Governo do MPLA. Os seus jovens eram poucos, mas vistosos, irreverentes e acutilantes nas suas manifestações e reivindicações. A UNITA ficou em terceiro lugar nesta avaliação académica. O argumento extra-retórico de manifestação (cerca de um milhão de manifestantes pelo país) foi significativo. O argumento quantitativo de aumento do salário (mínimo: 50 mil kwanzas) e o aumento da gratuidade escolar até a 13ª Classe foram outros tópicos não técnicos marcantes. A UNITA foi recorrente nos argumentos de refutação/negação e extra-retórico de lei (alegando eleições não conforme a lei). Certa presença simbólica e territorial terá sido também vantajosa a este partido. Os partidos políticos PRS e FNLA ficaram na cauda da pesquisa que temos vindo a citar. No PRS, os estudantes de comunicação social salientaram o argumento extrínseco do federalismo e a crítica do totalitarismo e a refutação das assimetrias e miséria social dos angolanos. Na FNLA, reconheceram a atenção dada aos veteranos de guerra (argumento de piedade e patriotismo). Este pequeno estudo pode elucidar o quão é importante conhecer e praticar as técnicas persuasivas nas estratégias e acções de partidos políticos. A Retórica, Marketing, Publicidade e Propaganda política deixaram de ser coisas de curiosos e amadores em Angola. O MPLA está de parabéns pela atenção prestada à persuasão política. As outras agremiações políticas deverão lutar bastante para que as regras de jogo político não sejam ditadas por um só concorrente e não se devem lembrar da Retórica só na iminência de grandes eventos partidários.