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28.1.07

Italianos com medo de investir em Angola




Passados quase cinco anos de paz em Angola, considerando a promoção do governo angolano para atrair o capital estrangeiro, e tendo em conta outros mil factores, não esperava encontrar um italiano ainda receoso de fazer empreendimentos em Angola. Mas tive de reconsiderar esse meu optimismo, quando obtive dados de Vincenzo Silvestrelli, responsável do gabinente promocional do CONSEL, um organismo de promoção profissional em Roma. Silvestrelli disse-me que alguns italianos com projectos de investimentos virados para Angola estão recuando, ultimamente, a causa do medo pelo governo angolano. Alguns desses pensam que o actual governo de Angola lhes poderia confiscar as suas propriedades privadas uma vez criadas. Penso tratar-se dum temor sem fundamentos plausíveis, considerando o quadro actual de Angola. Certo porém é que muitos ainda não crêm na seriedade do actual governo angolano em promever e protejer a propriedade privada estrangeira. Por isso, estão aguardando pela anunciada realização de eleições.


O recente estudo do mercado angolano feito pelo Banco Mundial parace dar razão à desconfiança italiana. Este diz que Angola possui um "universo de oportunidades de investimento", mas o ambiente de negócios é pouco favorável ao crescimento do sector privado. O Banco Mundial salienta ainda a não existência de grande protecção ao investidor privado . As causas são as mesmas: altos índices de corrupção, infinidade de regulamentos e procedimentos burocráticos desnecessários e falta gritante de infra-estruturas. Até a própria capital, onde estão concentrados os maiores volumes de negócios, carece de vias fluíveis. O engarrafamento por exemplo está quase paralisando a capital ecónomica e política de Angola.


Nos últimos meses do ano passado fez-se um grande show em Milão visando informar aos pontenciais empresários italianos das oportunidades de negócios em Angola. Naltura, o governo de Berlursconi havia prometido eventuais promoções e investimentos a condição de que Angola liquidasse a sua dívida com Itália, coisa que até agora o governo angolano parece não ter feito.


Em Novembro passado, a Embaixada de Angola na Itália promoveu uma semana cultural com o lema “conhecer Angola na casa do Brasil”. Num dos dias dos debates, o argumento foi “o crescimento económico de Angola”. Tema apresentado pelo senhor Carlos Amaral, adido ecómico da mesma embaixada. Não só não vi na sala pontenciais investidores italianos como também a apresentação me tinha parecido desastrosa para a seriedade económoca pretendida. Até os tais dados estatísticos avançados naltura eram todos estimativas, nada certo. E é assim que se pretende atrair os empresários italianos para Angola.

16.1.07

A vida dum cão conta muito mais do que a duma criança, na Itália!


Entre nós em Angola, ser considerado um cão, gato, porco ou ser tratado como um animal é sinónimo de grande ofensa e humilhação. Mas, não deve ser assim na Europa. Aqui os animais, em particular cães e gatos, gozam de grande respeito e consideração. Posso mesmo afirmar que os animais são muito mais respeitados e protejedos do que os próprios embriões humanos. Na cidade de Torino, padre Moro foi proibito de conservar passarinhos em gaiolas sob pena de pagar seis mil euros. Ele porém desafiou as autoridades civis que o faria se penalizassem também as dezenas de pessoas que diariamente fazem abortos nos hospitais da cidade.

Na Europa, a sensibilização em favor dos animais tem vindo a crescer com a pressão política dos lobbies ambientalistas. Fizeram-se até leis para os protegerem de eventuais abandonos, agressões e maltratos. Por exemplo, alguns novos decretos rezam que a pessoa que matar um cão expiará ao menos seis meses de prisão. Curiosamente o assassino de crianças inocentes(aborto) é legal e assistido nos hospitais.

Alguns amigos de cães têm habito de cortar cauda ou orelha do seu respectivo canino a motivo de moda. Este mês foi proibido por lei esta prática na Itália. Ano passado, os parlamentares italianos aprovaram uma outra lei que estipula “a criação de cimitérios para animais domésticos como gatos, cães e todos os animais que nos fazem companhia”. E mais: lhes foram previstos carros fúnebres, para não dizer enterro solene.

A atenção dos legisladores italianos espelha somente a amizade e afectos dos cidadãos em relação a estes animais. De facto, basta sairmos à rua, jardins e pátios públicos em Roma para vermos tanta gente acampanhada dos respectivos caninos. Manhãs e tardes, jovens e velhos. Alguns correndo, outros acareciando e outros ainda beijando os tais caninos. Um espectáculo que as vezes me parece nojento.

Roma está cheia de pessoas pobres e que passam o dia a pedir esmola somente para saciar a fome. Nunca ouvi porém a existência duma ONG cujo fim fosse a distribuição de alimentos a esses desgraçados. Há contudo empresas cujos serviços consistem na distribuição de comida aos gatos espalhados pelas ruinas antigas da cidade.

Os animais têm também direito a hospitais (com consultas regulares), lojas, alimentos, vestuários e dormitórios confortáveis. E muitos dessas pessoas que descarregam os seus afectos aos gatos e cães são as mesmas a desaconselhar o nascimento dum ou mais filhos para evitar as responsabilidades sociais duma criança. Dizem por exemplo que uma criança dá muita maçada, requer muitos cuidados e custa não pouco dinheiro.

5.1.07

O NATAL ENTRE A HOSPITALIDADE DOS SICILIANOS


Nunca me senti tão próximo de África quanto desta vez em Agrigento. É que passei as recentes festas natalícias e do fim do ano entre os ilhéus sicilianos. Entre Favara e Palarmo estava montada a minha tenda. Foi magnífico contemplar os espectaculares catacumbas, tumulos e os templos greco-romanos do chamado “vale dos Templos” em Agrigento, alí com mais de três mil anos de existência.

As cidades sicilianas são bastantes antigas e urbanizadas, pesa embora pouca manuntenção de certas casas e ruas. Nalguns bairros a precariedade e pobreza são ainda bastante visíveis a olho desarmado. Praças e pracinhas por quase todos os cantos e esquinas das cidades. Vende-se de tudo um pouco. Das hortaliças, frutas aos bugingangas de moda. Há quem associe tal situação de coisas à ilegalidade de certos sicilianos (máfia) e imigrantes.

Mas, a gente siciliana me pareceu extremante simpática, acolhente, e com um espírito forte do sentido de família alargada e de religiosidade que ainda não encontrei noutra parte de Itália. Na Paróquia em que estive hospedado, as três missas dominicais eram sempre lotadas de gente, pessoal que participa viva e festivamente, cantando e batendo palmas, fazendo-me tudo lembrar a África, até o sol que nos sorria quase diariamente. «Nós somos assim por sermos híbridos de raça_ confidenciou-me um siciliano._Temos sangue árabe, italiano e espanhol no nosso dna».

Interessante porém notar o descuido dos fiéis e pároco em relação a certa disciplina de horários e ao descuido e abandono a que está votado a casa Paroquial. Na dita canónica, por exemplo, eu rezava sempre para que o tecto do quarto em que estive hospedado não caísse sobre mim durante o sono da noite. O pároco que me pareceu mais um carismático ausente e um tanto quanto desleixado de cura material, desculpa-se alegando ser novo na sede paroquial e não ter entradas suficientes para restaurar a casa e acudir outras básicas necessidades.

Foi também interessante notar mais uma vez que muitos párocos europeus não cuidam muito das suas cozinhas paroquiais. Muitos desses preferem fazer as refeições dos seus parentes, amigos ou dos restaurantes. A cozinha, se existe, é quase sempre apagada, inoperante. Aqui mais uma vez eu tive de me socorrer aos generosos fiéis e aos bares para matar fome.

3.1.07

MÁFIA, A FAMOSA ‘COISA ITALIANA’


Passei as festas natalícias entre os ilheus sicilianos. Sicília é muito diversa do resto de Itália não só pela sua geografia e clima afromediterrânicos, mas, sobretudo pela simpatia dos seus habitantes. As vezes me dava conta de estar ainda na Itália somente por ver gente branca, falando italiano.O pessoal é muito espirituoso e divertente. Por isso, me tenho questionado por quê motivo ter nascido aqui a famosa Máfia? Como é que essa boa gente se terá permitido este bando de criminosos? Ou eu é que não percebo nada dessa tal coisa de Máfia?
Coloquei estas e outras questões a quem me oferecesse um pouco do seu olhar confiante. Notei porém que os jovens e as mulheres, por vergonha ou medo, manifestavam mais dificuldades ao falarem de Máfia do que os adultos, homens.
Máfia, pare estes, é um grupo de pessoas que procura garantir o controlo do território em que habita através de uma imposição fiscal à actividade comercial e industrial da zona. Esse tal expediente é denominado pizzo ou racket. Aos infractores de tal fisco, a Máfia impõe pesantes punições como incêndios de shopping, perseguição ou morte do incumpridor. Esse tipo de Máfia é chamado ‘máfia negra’ porque existe também a dita ‘máfia branca’. Esta corrente mafioso está intrometida no mundo polítoco-administrativo, e procura corromper os políticos e funcionários públicos através de ofertas significativas de digneiro a fim de ganhar confiança, impunidade legal e certa tolerância com o sistema mafioso. Essa tal conivência entre mafiosos e empregados estatais permite aos agentes mafiosos afrontar descomplexadamente qualquer antimafioso, seja ele criminal ou institucional, usando, nalguns casos, o próprio poderio estatal.
«Tu tens um negócio ou empresa_esclarece-me Ferrari, um amigo meu de Agrigento._Chega um desses mafiosos e te pede que lhe pague 500 ou mais euros por cada mês, sob pena de danos incofessos, afim de proteger os negócios. O pessoal paga porque a polícia não é eficiente», confessou-me aquele amigo siciliano.
Segundo dados da Eurispes, a organização mafiosa italiana movimenta 13 bilhões de euros por ano. Na sua maioria, dinheiros provenientes do tráfico de droga, arma, roubo, extorsão, lavagem de dinheiro e prostituição. Isso indica que a Máfia é actualmente muito mais complexa na sua estrutura e funcionamento do que a Máfia negra ou branca que nos descreveu Ferrari. Não se trata de mera ‘gasosa’ nem de mero tráfico de influências. No dizer de alguns criminólogos italianos, a Máfia tem um poderio quase paralelo ao poder político-policial.
É interessante por outro notar a diversidade de nomes eufêmicos com que os italianos designam a Máfia. ‘Cosa nostra”, para maioria de gente e a mídia; Camorra, Clã mafiosa, Fraternidade, para outros, só para citar alguns. Os próprios mafiosos porém se difinem como ‘homens de honra’. Outra curiosidade reside no uso de nomes religiosos entre os mafiosos. O chefe máximo da ‘Família mafiosa’ é chamado Boss, os outros membros são designados por irmão, dom, padrinho, afilhado, conselheiro e chefe-mandamento, conforme o respectivo estatuto e grau naquele agregado mafioso. Entre si, os mafiosos se protegem e se ajudam, excepto quando houver desconfianças ou traições. Nestes casos, matam-se como ratos.
A Máfia existe e actua por todas as regiões de Itália, mas os seus grandes bastiões continuam sendo Palermo (Sicília), Nápoli (Campagna) e Calábria.
Em Nápoli, quase diariamente morre pessoa a causa da dita ‘Camorra’, até crianças e pessoas inocentes. Nos últimos tempos estava-se inventando possibilidade do governo prodiano mandar um contigente militar a Nápoli para ajudar a polícia a garantir ordem e segurança pública. Semelhante táctica tinha sido usada entre 1992 e 1998, quando 20 mil homens de farda foram desembarcados na cidade de Palermo para protegerem os ditos ‘objectivos sensíveis’ tais como tribunais, casas dos magistrados, aeroportos, portos e outros. Até hoje vêm-se a Palermo homens armados aos dentes em cada esquina duma sede de Banco.
Os dramáticos vestígios de uma vida à margem da lei são muito visivos e patentes nestas cidades sulanas de Itália. Vêm-se a olho nu a pobreza e a pouca urbanidade daquelas cidades, sobretudo nalguns bairros periféricos. Faz pena a precariedade de trabalho desses italianos do sul. Fiquei chocado por exemplo ao ver em Nápoli moços italianos pedindo esmolas. O lixo nas ruas e a precariedade de casas é também uma constante nestes bastiões de ‘coisa italiana’.