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3.1.07

MÁFIA, A FAMOSA ‘COISA ITALIANA’


Passei as festas natalícias entre os ilheus sicilianos. Sicília é muito diversa do resto de Itália não só pela sua geografia e clima afromediterrânicos, mas, sobretudo pela simpatia dos seus habitantes. As vezes me dava conta de estar ainda na Itália somente por ver gente branca, falando italiano.O pessoal é muito espirituoso e divertente. Por isso, me tenho questionado por quê motivo ter nascido aqui a famosa Máfia? Como é que essa boa gente se terá permitido este bando de criminosos? Ou eu é que não percebo nada dessa tal coisa de Máfia?
Coloquei estas e outras questões a quem me oferecesse um pouco do seu olhar confiante. Notei porém que os jovens e as mulheres, por vergonha ou medo, manifestavam mais dificuldades ao falarem de Máfia do que os adultos, homens.
Máfia, pare estes, é um grupo de pessoas que procura garantir o controlo do território em que habita através de uma imposição fiscal à actividade comercial e industrial da zona. Esse tal expediente é denominado pizzo ou racket. Aos infractores de tal fisco, a Máfia impõe pesantes punições como incêndios de shopping, perseguição ou morte do incumpridor. Esse tipo de Máfia é chamado ‘máfia negra’ porque existe também a dita ‘máfia branca’. Esta corrente mafioso está intrometida no mundo polítoco-administrativo, e procura corromper os políticos e funcionários públicos através de ofertas significativas de digneiro a fim de ganhar confiança, impunidade legal e certa tolerância com o sistema mafioso. Essa tal conivência entre mafiosos e empregados estatais permite aos agentes mafiosos afrontar descomplexadamente qualquer antimafioso, seja ele criminal ou institucional, usando, nalguns casos, o próprio poderio estatal.
«Tu tens um negócio ou empresa_esclarece-me Ferrari, um amigo meu de Agrigento._Chega um desses mafiosos e te pede que lhe pague 500 ou mais euros por cada mês, sob pena de danos incofessos, afim de proteger os negócios. O pessoal paga porque a polícia não é eficiente», confessou-me aquele amigo siciliano.
Segundo dados da Eurispes, a organização mafiosa italiana movimenta 13 bilhões de euros por ano. Na sua maioria, dinheiros provenientes do tráfico de droga, arma, roubo, extorsão, lavagem de dinheiro e prostituição. Isso indica que a Máfia é actualmente muito mais complexa na sua estrutura e funcionamento do que a Máfia negra ou branca que nos descreveu Ferrari. Não se trata de mera ‘gasosa’ nem de mero tráfico de influências. No dizer de alguns criminólogos italianos, a Máfia tem um poderio quase paralelo ao poder político-policial.
É interessante por outro notar a diversidade de nomes eufêmicos com que os italianos designam a Máfia. ‘Cosa nostra”, para maioria de gente e a mídia; Camorra, Clã mafiosa, Fraternidade, para outros, só para citar alguns. Os próprios mafiosos porém se difinem como ‘homens de honra’. Outra curiosidade reside no uso de nomes religiosos entre os mafiosos. O chefe máximo da ‘Família mafiosa’ é chamado Boss, os outros membros são designados por irmão, dom, padrinho, afilhado, conselheiro e chefe-mandamento, conforme o respectivo estatuto e grau naquele agregado mafioso. Entre si, os mafiosos se protegem e se ajudam, excepto quando houver desconfianças ou traições. Nestes casos, matam-se como ratos.
A Máfia existe e actua por todas as regiões de Itália, mas os seus grandes bastiões continuam sendo Palermo (Sicília), Nápoli (Campagna) e Calábria.
Em Nápoli, quase diariamente morre pessoa a causa da dita ‘Camorra’, até crianças e pessoas inocentes. Nos últimos tempos estava-se inventando possibilidade do governo prodiano mandar um contigente militar a Nápoli para ajudar a polícia a garantir ordem e segurança pública. Semelhante táctica tinha sido usada entre 1992 e 1998, quando 20 mil homens de farda foram desembarcados na cidade de Palermo para protegerem os ditos ‘objectivos sensíveis’ tais como tribunais, casas dos magistrados, aeroportos, portos e outros. Até hoje vêm-se a Palermo homens armados aos dentes em cada esquina duma sede de Banco.
Os dramáticos vestígios de uma vida à margem da lei são muito visivos e patentes nestas cidades sulanas de Itália. Vêm-se a olho nu a pobreza e a pouca urbanidade daquelas cidades, sobretudo nalguns bairros periféricos. Faz pena a precariedade de trabalho desses italianos do sul. Fiquei chocado por exemplo ao ver em Nápoli moços italianos pedindo esmolas. O lixo nas ruas e a precariedade de casas é também uma constante nestes bastiões de ‘coisa italiana’.