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3.12.06

DOM MILINGO, SANTIFICADO POR ALGUNS E DIABOLIZADO POR OUTROS


Dentro deste mês de Dezembro voltará a ribalta a mediática polémica de Milingo, ex-arcebispo de Lusaka, com o Vaticano em relação ao celibato opcional na Igreja Católica. A meu ver porém a vedadeira problemática do “caso Milingo” refere-se ao seu excessivo ‘orgulho carismático’. É verdade não ter faltado igual excesso de zelo da parte do Vaticano em relação ao bispo Milingo.

Me explico. Nos ombros de Milingo pesava acusação de criar confusão entre os fiéis católicos, com as suas missas de espiritismo africano. Foi silenciado e isolado por razões ditas de disciplina e comunhão eclesial. Ele porém nunca engoliu tais acusações, muito menos aceito tais restricções. Era orgulhoso da sua ‘liberdade carismática’. Pensava possuir ‘poderes especiais’ de cura e exorcismo. E procurava a todos modos desfazer-se das proibições que pesavam sobre si, o que criava tensões no Vaticano e aplausos entre as pessoas que se sentiam curadas pelas palavras e orações de Milingo.

De 1973 a 2000 a popularidade do bispo Milingo como curador espiritual tornou-se mundial. E ele não resistia à tal fama. Não conseguia conter os seus dotes nem restar fechado na sua modesta comunidade de Zagarlo, em Roma. Em 2001 vai a USA procurar outros prados, outras ovelhas. Uma grande vontade de falar às multidões lhe consumia o curação. Alí mesmo lhe foi oferecido o que Vaticano lhe tinha mitigado: o púlpito público, mas, a condição de esposar a senhora Maria Sung e ser catequizado na seita religiosa dos moonies. Milingo não exitou a agradecer a proposta insidiosa do pastor Moon. Explude o escándalo. Amigos e benfeitores italianos do bispo africano se mobilizam. Conseguem convencer e trazar a Roma o ‘anormal’ Milingo. João Paulo II o acolhe como irmão. Milingo se apercebe de ter cometido erros e escândalos. Arrepende-se, e se submete a uma desintoxicação da poera americana. Tudo parece resolvido e sereno. Mas, por dentro, o mais velho Milingo já não se sente em casa. Roma continua sendo estranho a si mesmo e aos seus sonhos. Pensa e repensa. Pega na sua mala, e escamotea outra vez para USA. Volta a unir os seus trapos com a sua mulher, Maria Sung, mas, se reserva à distância dos moonies, ao menos publicamente. Se lhe apresenta outro projecto. Ele o aceita e o executa. Nasce assim o movimento chamado “Married Priest Now” com o objecto de ‘reabilitar’ os padres casados. O velho não fica por aí. Em Setembro de 2006, entende consagrar a bispo 4 desses sacerdotes casados. Rebenta outro escândalo. Vaticano não reconhece bispos tais padres, e excomunga o ex-arcebispo de Lusaka.

Enfim, Milingo, usado por uns e isolado por outro, tornou-se não só um escândalo gritante dentro da Igreja católica, mas também um pesadelo do Vaticano. Milingo porém se defende e justifica as suas acções como zelo apostólico e carismático. Segundo ele tudo quanto tinha dito e feito, fê-lo por “amor a Deus e à humanidade”. Até a sua adesão à seita moonies e a sua convivência marital com a Maria Sung. Tudo pensado, desejado e cumprindo por razões de sua paixão à evangelização, cura dos doentes e expulsão dos demônios.

Apesar das situações que lhe levaram ao estado de exaustão, algo me parece ter escapado no juízo do ancião. Milingo tornou-se bandeira de casos periféricos da Igreja que não têm comparação com as suas anteriores obras caritativas em África. O grave é que o Milingo ‘americano’ parece não ser mais dono de si mesmo nem da sua autonomia racional.

O pastor zambiano foi sempre um sacerdote pragmático. Para responder às necessidades sociais e religiosas do seu país, Milingo fundou três congregações religiosas e tantas obras de intervenção social na Zâmbia. Tudo era orientado e motivado pela caridade. Já não podemos afiramar o mesmo em realação aos novos projectos públicos de actual Milingo. As novas propostas são vazias de urgência e relevância teológica e pastoral. O celibato opcional dos padres será seguramente retomado e re-proposto na Igreja católica quando o Vaticano o considerar oportuno e benéfico para o bem do povo de Deus. Nunca o vai fazer somente para evitar pressão ou outro choc de Milingo.