NGANDU06

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30.12.06

2007 DE MISÉRIA EM ANGOLA

As notícias de Angola são contraditórias em si mesmas. E não me fazem nada crer que os miseráveis que lá conheci se tenham já transformados em pobres neste Natal. Por um lado, tornou-se música ouvir que o país está a subir, que a reconcilição nacionale é um facto, que a economia respira bem, que a saúde pública é melhor tal como terá melhorado também a condição de vida das populações. Por outro, porém, acentuou-se também rezingões de que em Angola está a ressurgir uma acentuada intolerância política, controlo partidário da mídia estatal, falta de liberdade de expressão no interior, estagnação dos problemas crónicos de luz, água, saúde, salários, transportes e eduacação, não obstante Luanda se ter tornado numa das cidades mais cara de África.
Alguns angolanos aqui na diáspora e certos políticos e jornalistas ocidentais estão ultimamente a cogitar que Angola esteja a transitar para um “regime de ineficiênça institucional”. Para estes, tudo faz crer que a velha política do governo do Mpla esteja sendo redimensionada e reorientada, não tanto para normalização e desenvolvimento do país segundo leis democráticas, quanto mais, para a sabotagem política e económica das actuais oportunidades proporcionadas pelos dividendos da paz, aumento dos preços petrolíferos e disponibilidade de empréstimos internacionais tal como os dos chineses.
Apontam-se a sistemática proteleção das elecções legislativas e presidenciais e a letargia na reconstrução das infra-estruturas como um conjunto de estratégias orquestradas para o aproveitamento e enriquecimento rápido e fácil da elite de Luanda.
Passados cinco anos desde que se alcançou a paz, alega-se que Luanda possua o controlo de tudo e todos em Angola para seus próprios fins. E que o ambiente político, administrativo e económico lhe é ora extremamente favorável para tal escopo.
A mim, é difícil tomar posição sobre essas conjecturas. Estou fora de Angola há mais de dois anos. Não é preciso, porém, residir em Angola para nos apercebermos que o tão difuso crescimento económico não se revê na melhoria das condições das populações.
As contas estatísticas sobre a pobreza em Angola são ainda assustadoras. Fala-se em cerca de 68% dos angolanos que sobrevivem com apenas um dolar/mês. Anualmente, a malária, a doença do sono e a tuberculose continuam a provocar milhares de mortes. A taxa de mortalidade infantil é uma das mais altas do mundo, com 260 mortes por cada 1.000 crianças que nascem, o que significa que mais de 1/4 das crianças angolanas não completa cinco anos de vida. O desemprego é outra crónica nas cidades. Para os poucos empregados, continua-se com os míseros 50 dolares/mês como tecto mínimo de salário, o que estimula a famosa “gasosa”. Os números dizem ainda que apenas 50 por cento da população angolana tem acesso a água potável; somente um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade; apenas 30 por cento de angolanos dispõem de saneamento básico e luz. As estatíscas, não dismentidas pelo governo angolano, dizem ainda que a taxa de analfabetos é bastante elevada em Angola, especialmente entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. E já em Fevereiro de 2007 recomeçarão o ano lectivo com greves dos professores descontentes e mal pagos.
Como se tudo isso não fosse bastante e grave por si só, continua acentuada a ‘corrupção institucional’, a ineficiência e parcialidade da lei do mercado para os sectores privados produtivos e comerciais, a máquina burocrática, a intrasparência das receitas e gastos públicos. Tudo isso acrescido a resignação da sociedade civil e passividade da oposição política angolana.
Diagnóstico vermelho e sombrio, quando muitos crêm num 2007 risonho e melhor? É este porém o quadro real e desafiante com que os angolanos devem ainda confrontar em 2007. Haja estômagos e corações para 2007!

5.12.06

Africa encabeça continentes abolicionistas de pena capital


Regimes militares na África subsariana e cultura religiosa aderente a sharia no norte de África ensanguentaram os africanos com penas de mortes durante centenas e centenas de anos. Ultimamente porém tem surgido com surpresa uma mudança de mentalidade e sensibilidade quanto a essa problemática abominável. Os acordos políticos favoráveis à paz que têm vindo a crescer em toda África pode estar por detrás desse respeito à vida e dignidade da pessoa humana. De facto, a maior parte dos países africanos estão renunciando à pena de morte. 13 dos 53 países africanos aboliram recentemente a pena capital, e 20 o são de facto, isto é, não executam a condenação mortal há bastante tempo. Outros países como Rwanda, Marroco, Zâmbia e Malawi preservam ainda a lei mortal, mas, têm dado ultimante passos significativos para sua eventual supressão.
Nesta direcção, grandes ensentivos têm vindo de organizações civis como Amnesty International e religiosas como a Comunidade de Sant’Egídio que promovem uma campanha mundial para abolição da pena de morte em todos os países. No passado ano por exemplo a Comunidade religiosa de Sant’Egídio promoveu um congresso intitulado “Africa for life” em que participaram doze ministros de justiça do continente africano. E actualmente pensa-se que África e suas cidades capitais continuarão a fazer progressos significativos tendentes a cancelar definitivamente a “lei de morte”, apesar das limitações colocadas pelos regimes não transparentes nem realmente democráticos

3.12.06

DOM MILINGO, SANTIFICADO POR ALGUNS E DIABOLIZADO POR OUTROS


Dentro deste mês de Dezembro voltará a ribalta a mediática polémica de Milingo, ex-arcebispo de Lusaka, com o Vaticano em relação ao celibato opcional na Igreja Católica. A meu ver porém a vedadeira problemática do “caso Milingo” refere-se ao seu excessivo ‘orgulho carismático’. É verdade não ter faltado igual excesso de zelo da parte do Vaticano em relação ao bispo Milingo.

Me explico. Nos ombros de Milingo pesava acusação de criar confusão entre os fiéis católicos, com as suas missas de espiritismo africano. Foi silenciado e isolado por razões ditas de disciplina e comunhão eclesial. Ele porém nunca engoliu tais acusações, muito menos aceito tais restricções. Era orgulhoso da sua ‘liberdade carismática’. Pensava possuir ‘poderes especiais’ de cura e exorcismo. E procurava a todos modos desfazer-se das proibições que pesavam sobre si, o que criava tensões no Vaticano e aplausos entre as pessoas que se sentiam curadas pelas palavras e orações de Milingo.

De 1973 a 2000 a popularidade do bispo Milingo como curador espiritual tornou-se mundial. E ele não resistia à tal fama. Não conseguia conter os seus dotes nem restar fechado na sua modesta comunidade de Zagarlo, em Roma. Em 2001 vai a USA procurar outros prados, outras ovelhas. Uma grande vontade de falar às multidões lhe consumia o curação. Alí mesmo lhe foi oferecido o que Vaticano lhe tinha mitigado: o púlpito público, mas, a condição de esposar a senhora Maria Sung e ser catequizado na seita religiosa dos moonies. Milingo não exitou a agradecer a proposta insidiosa do pastor Moon. Explude o escándalo. Amigos e benfeitores italianos do bispo africano se mobilizam. Conseguem convencer e trazar a Roma o ‘anormal’ Milingo. João Paulo II o acolhe como irmão. Milingo se apercebe de ter cometido erros e escândalos. Arrepende-se, e se submete a uma desintoxicação da poera americana. Tudo parece resolvido e sereno. Mas, por dentro, o mais velho Milingo já não se sente em casa. Roma continua sendo estranho a si mesmo e aos seus sonhos. Pensa e repensa. Pega na sua mala, e escamotea outra vez para USA. Volta a unir os seus trapos com a sua mulher, Maria Sung, mas, se reserva à distância dos moonies, ao menos publicamente. Se lhe apresenta outro projecto. Ele o aceita e o executa. Nasce assim o movimento chamado “Married Priest Now” com o objecto de ‘reabilitar’ os padres casados. O velho não fica por aí. Em Setembro de 2006, entende consagrar a bispo 4 desses sacerdotes casados. Rebenta outro escândalo. Vaticano não reconhece bispos tais padres, e excomunga o ex-arcebispo de Lusaka.

Enfim, Milingo, usado por uns e isolado por outro, tornou-se não só um escândalo gritante dentro da Igreja católica, mas também um pesadelo do Vaticano. Milingo porém se defende e justifica as suas acções como zelo apostólico e carismático. Segundo ele tudo quanto tinha dito e feito, fê-lo por “amor a Deus e à humanidade”. Até a sua adesão à seita moonies e a sua convivência marital com a Maria Sung. Tudo pensado, desejado e cumprindo por razões de sua paixão à evangelização, cura dos doentes e expulsão dos demônios.

Apesar das situações que lhe levaram ao estado de exaustão, algo me parece ter escapado no juízo do ancião. Milingo tornou-se bandeira de casos periféricos da Igreja que não têm comparação com as suas anteriores obras caritativas em África. O grave é que o Milingo ‘americano’ parece não ser mais dono de si mesmo nem da sua autonomia racional.

O pastor zambiano foi sempre um sacerdote pragmático. Para responder às necessidades sociais e religiosas do seu país, Milingo fundou três congregações religiosas e tantas obras de intervenção social na Zâmbia. Tudo era orientado e motivado pela caridade. Já não podemos afiramar o mesmo em realação aos novos projectos públicos de actual Milingo. As novas propostas são vazias de urgência e relevância teológica e pastoral. O celibato opcional dos padres será seguramente retomado e re-proposto na Igreja católica quando o Vaticano o considerar oportuno e benéfico para o bem do povo de Deus. Nunca o vai fazer somente para evitar pressão ou outro choc de Milingo.

1.12.06

A problemática de Imigração na Europa, Itália em particular

A imigração é um fenómeno em aumento vertiginoso na União Europea, não obstante as políticas restritivas de imigração e a intensificação de controlos fronteiriços. São mais de 56 milhões de imigrantes, dos quais 5 milhões clandestinos, segundo dados de Caritas Europa. Na Itália os imigrantes de diversas partes do mundo são mais de 3 milhões, e a tendência é de aumentar mensalmente.

O constante fluxo dos imigrantes clandestinos na Europa não é porém sinónimo de deliquência nem de insegurança social como facilmente se suspeita. A maioria dos imigrantes são pessoas responsáveis a procura de emprego e melhores condições de vida. Muitos deles escaparam às precárias condições económicas e sociais dos seus respectivos países. Na sua mairoria são provenientes da Europa do leste, de Ásia e África do norte.

Uma vez porém chegados na Europa se confrontam com grandes obstáculos tal como a defesa dos seus direitos fundamentais, a inserção legal, a integração laboral, social e cultural.

Para acudir a estes e outros semelhantes problemas, têm nascido muitas organizações religiosas, civis e governamentais. Na Itália por exemplo são mais notórias e significativas as acções das Caritas e da Comunidade de Santo Igídio, ambas organizações da Igreja Católica, a favor dos imigrantes. Instituições civis e estatais como Associação Extra Center (com bancos de dado dos trabalhadores imigrantes), a Federação e Sindicato dos trabalhadores estrangeiros na Itália oferecem suporte legal e outros serviços úteis aos imigrantes.

Entretanto, o grande muro por abater ainda consiste nas desconfianças preconceituosas enraizadas em muitos europeus e na exploração e desfrutamento da mão de obra barata da parte de alguns empreendedores pouco escropulosos. Para se evitar tais abusos que em nada favorecem a convivência pacífica e multircultural nem o respeito da dignidade da pessoa humana, a Igreja Católica e outras organizações laicas têm apelado à superação de sentimentos e comportamentos estreitamente nacionalísticos de modo a criar-se condições e regras civis que reconheçam como direito a imigração e facilitem a sua integração socio-profissional e habitacional.