2007 DE MISÉRIA EM ANGOLA
Alguns angolanos aqui na diáspora e certos políticos e jornalistas ocidentais estão ultimamente a cogitar que Angola esteja a transitar para um “regime de ineficiênça institucional”. Para estes, tudo faz crer que a velha política do governo do Mpla esteja sendo redimensionada e reorientada, não tanto para normalização e desenvolvimento do país segundo leis democráticas, quanto mais, para a sabotagem política e económica das actuais oportunidades proporcionadas pelos dividendos da paz, aumento dos preços petrolíferos e disponibilidade de empréstimos internacionais tal como os dos chineses.
Apontam-se a sistemática proteleção das elecções legislativas e presidenciais e a letargia na reconstrução das infra-estruturas como um conjunto de estratégias orquestradas para o aproveitamento e enriquecimento rápido e fácil da elite de Luanda.
Passados cinco anos desde que se alcançou a paz, alega-se que Luanda possua o controlo de tudo e todos em Angola para seus próprios fins. E que o ambiente político, administrativo e económico lhe é ora extremamente favorável para tal escopo.
A mim, é difícil tomar posição sobre essas conjecturas. Estou fora de Angola há mais de dois anos. Não é preciso, porém, residir em Angola para nos apercebermos que o tão difuso crescimento económico não se revê na melhoria das condições das populações.
As contas estatísticas sobre a pobreza em Angola são ainda assustadoras. Fala-se em cerca de 68% dos angolanos que sobrevivem com apenas um dolar/mês. Anualmente, a malária, a doença do sono e a tuberculose continuam a provocar milhares de mortes. A taxa de mortalidade infantil é uma das mais altas do mundo, com 260 mortes por cada 1.000 crianças que nascem, o que significa que mais de 1/4 das crianças angolanas não completa cinco anos de vida. O desemprego é outra crónica nas cidades. Para os poucos empregados, continua-se com os míseros 50 dolares/mês como tecto mínimo de salário, o que estimula a famosa “gasosa”. Os números dizem ainda que apenas 50 por cento da população angolana tem acesso a água potável; somente um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade; apenas 30 por cento de angolanos dispõem de saneamento básico e luz. As estatíscas, não dismentidas pelo governo angolano, dizem ainda que a taxa de analfabetos é bastante elevada em Angola, especialmente entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. E já em Fevereiro de 2007 recomeçarão o ano lectivo com greves dos professores descontentes e mal pagos.
Como se tudo isso não fosse bastante e grave por si só, continua acentuada a ‘corrupção institucional’, a ineficiência e parcialidade da lei do mercado para os sectores privados produtivos e comerciais, a máquina burocrática, a intrasparência das receitas e gastos públicos. Tudo isso acrescido a resignação da sociedade civil e passividade da oposição política angolana.
Diagnóstico vermelho e sombrio, quando muitos crêm num 2007 risonho e melhor? É este porém o quadro real e desafiante com que os angolanos devem ainda confrontar em 2007. Haja estômagos e corações para 2007!