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16.5.07

A opulência ignora a indigência cigana

Os nómadas europeus são mais conhecidos por ciganos, na realidade têm muitos outros nomes segundo o lugar, país ou continente. Assim, nalgumas zonas do mundo são chamados rom, sinti, manouches, kalé, yeniches, zíngaros, etc. Estes são um grupo étnico específico que provavelmente terá sua origem na zona ocidental da Índia onde vivem actualmente mais de 18 milhões de ciganos. Segundo números que obtive da agência noticiosa ZENIT, no mundo contam-se 36 milhões ciganos. Na Europa oscilam entre os 9 e 12 milhões, com a sua concentração mais lá para o Leste europeu, em particular na Hungria (cerca seiscentos mil). Na Itália, há alguns anos viviam cerca de cem mil zíngaros, agora são apenas duzentos mil, embora ultimamente diga-se estar a crescer significativamente a cifra com a elevada imigração dos romenos.

Uma das coisas que me admira nesses povos é a sua característica nómada, identidade cultural e a pobreza, numa realidade europea radicalmente sedentária, estável e ultra-moderna, se me mertem a expressão. Os ciganos não são integrados nas estuturas administrativas, sanitárias, educativas, culturais nem religiosas italianas ou europeas, embora falem italiano ou vivam cá por séculos. É impressionante vé-los agarrados de unhas e dentes aos seus usos e costumes: rígidas relações de dependência pessoal e familiar; mulheres com trajes tipicamente ciganas tal como as distintas e características saias cumpridas; entre si, falam somente a sua lingua tribal. Vivem em aldeas ou campos improvisados por si mesmos a tempo indeterminado. Não têm trabalho fixo (diz-se que vivem de esmolas e de pequenos roubos). Não mandam os filhos às escolas nem aprendem os ofícios profissionais. Entretanto, se conhece alguns pouquíssimos bem integrados e sucedidos nas sociedades e culturas europeas.
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelos ciganos, está o preconceito generalizado sobre este povo a causa do escasso conhecimento da identidade e cultura que lhes é peculiar, factor esse considerado estar na base de «acções discriminatórias e agressivas para com a população cigana».

Vários organismos filantrópicos, caritativos e eclesiásticos empenham-se em programas de ajuda, assegurando às comunidades ciganas os valores fundamentais da democracia e da igualdade, sobretudo ao nível da saúde, trabalho, alojamento e acesso aos estudos, mas os frutos parecem desiludir a esses agentes sociais.

Pessoalmente, sempre pensei que todo o ser humano quisesse viver espiritual e materialmente bem, mas as condições de habitabilidade e urbanidade de muitos ciganos aqui me tem suscitado questões sérias sobre o meu «conceito de benesser». E até me tenho interrogado se a pobreza não é de facto um factor cultural, antes de ser uma realidade social. Me tenho questionado também se quando Jesus e S. Francisco de Assis predicaram respectivamente a pobreza e a medicância queriam exactamente uma condição de vida como esta dos ciganos ou coisa parecida.