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18.3.07

Os Problemas pastorais afrontados no recente documento de Bento XVI, Parte II



A nova exortação pós-sinodal «Sacramento da Eucaristia» apresentado terça-feira passada aqui em Roma, não se limitou a precisar e orientar doutrinas da celebração da Missa como descrevi no artigo anterior a este. O denso documento papal termina com apelos e indicações muito determinantes e precisas sobre a responsabilidade sócio-política dos que diaria ou mensalmente comem e bebem do corpo e sangue de Jesus Cristo. O Papa proibe os católicos a votarem políticas ou políticos contra «as leis naturais». Chama-se a isso «coerência eucarística».


Em relação as consequências sociais da Eucaristia, Bento XVI não tem papas na lingua. «O culto agradável a Deus nunca é um acto meramente privado, sem consequências nas nossas relações sociais: requer o testemunho público da própria fé. Evidentemente isto vale para todos os baptizados, mas impõe-se com particular premência a quantos, pela posição social ou política que ocupam, devem tomar decisões sobre valores fundamentais como o respeito e defesa da vida humana desde a concepção até à morte natural, a família fundada sobre o matrimónio entre um homem e uma mulher, a liberdade de educação dos filhos e a promoção do bem comum em todas as suas formas». Estes são considerados no documento «os valores não negociáveis». Os políticos e os legisladores católicos são advertidos a sentirem-se particularmente interpelados pela sua consciência rectamente formada a apresentar e apoiar leis inspiradas nos valores impressos na natureza humana. E mais: os bispos são obrigados a recordar sem cessar tais valores aos católicos menos avisados.


As consequências sociais e políticas da exortação papal tocam também as problemáticas internacionais de justiça e de solidariedade para com os pobres. «A restauração da justiça, a reconciliação e o perdão são, sem dúvida alguma, condições para construir uma verdadeira paz; desta consciência nasce a vontade de transformar também as estruturas injustas, a fim de se restabelecer o respeito da dignidade do homem, criado à imagem e semelhança de Deus; é através da realização concreta desta responsabilidade que a Eucaristia se torna na vida o que significa na celebração». Como tem afirmado várias vezes o próprio Bento XVI, não compete a Igreja tomar nas suas mãos a batalha política para se realizar a sociedade mais justa possível, todavia, ela não deve ficar à margem da luta pela justiça. «A Igreja deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá afirmar-se nem prosperar ».


Segundo o Papa, os problemas de paz ou guerra, conflitos ou terrismos, corrupção ou direitos humanos não podem deixar indiferentes os cristãos praticantes. « Quem participa na Eucaristia deve empenhar-se na edificação da paz neste nosso mundo marcado por muitas violências e guerras, e, hoje de modo particular, pelo terrorismo, a corrupção económica e a exploração sexual». Por outro, afirma Bento XVI, «o pedido que repetimos em cada Missa: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, obriga-nos a fazer tudo o que for possível, em colaboração com as instituições internacionais, estatais, privadas, para que cesse ou pelo menos diminua, no mundo, o escândalo da fome e da subnutrição que padecem muitos milhões de pessoas, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento», reza ainda esta exortação pós-sinodal. Estes apelos são dirigidos aos bispos, padres, religiosos e, em particular, aos leigos empenhados na sociedade e na política.