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17.3.07

Os Problemas pastorais afrontados no recente documento de Bento XVI



Nesta semana que está terminando foi apresentado aqui em Roma o segundo documento importante do papado de Bento XVI, depois da encíclica Deus caritatis est. Nele Bento XVI espelha as sugestões da Assemblea dos bispos que decorreu em Outubro de 2005, na cidade do Vaticano. Para alguns, é mais um documento vazio de novidades, para outros, a exortação pós-sinodal «Sacramento de Eucaristia», no fundo, precisa e riorienta o programa pastoral do novo ponteficado de Bento XVI. Há quém até leia neste sacramentum caritatis uma visão somente conservadora e tradicionalistas. A mim porém pareceu-me um documento denso e rico de conteúdo sobre a concepção, celebração e prática do sacramento eucarístico. O documento tem apenas 97 pontos e cerca 50 páginas. A linguágem é acessível e clara. Portanto, simples de ser lido. Na minha lucubração, não encontrei de facto conteúdos novos nesta exortação, mas, a clareza e a forma como tais propostas são sublinhadas e reiteradas pelo Papa Bento XVI é a meu ver o que torna o documento significante e interessante. Sem mais delongas, vejamos alguns aspectos de carácter sócio-pastoral.


Antes de mais, é preciso reconhecer a finalidade desta exortação papal. Trata-se de «despertar e aumentar nos crentes a fé eucarística, para melhorar o cuidado das celebrações e promover a adoração eucarística, para encorajar uma real solidariedade que, partindo da Eucaristia, atingisse os necessitados». Com este escopo, Bento XVI pretende também corrigir alguns abusos ligados a prática, celebração e compreensão da Eucaristia.


As nossas Igrejas estão cheias de famílias amigadas e divorciadas, para não falar das famílias poligâmicas em África. Por zelo pastoral, alguns clérigos têm colocado a possibilidade de se dar comunhão a algumas dessas famílias em determinadas condições. Quanto a isto, Bento XVI reitera «o não» dos padres sinodais. «Não admitir aos sacramentos os divorciados re-casados, porque o seu estado e condição de vida contradizem objectivamente aquela união de amor entre Cristo e a Igreja que é significada e realizada na Eucaristia». Todavia estas famílias não são praticamente ex-comungadas, «continuam a pertencer à Igreja, que os acompanha com especial solicitude na esperança de que cultivem, quanto possível, um estilo cristão de vida, através da participação na Santa Missa ainda que sem receber a comunhão, da escuta da palavra de Deus, da adoração eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, do empenho na educação dos filhos».


A relação que a Eucaristia tem com o sacerdócio ministerial, fez sim que os padres sinodais reiterassem «o sentido profundo do celibato sacerdotal». É que ultimamente, o comportamento e discursos de alguns clérigos ressaltavam muito a razão administractiva ou funcional do celibato. Bento XVI sublinha nesta exortação o aspecto tradicional e teológico do celibato. É «sinal expressivo de dedicação total e exclusiva a Cristo, à Igreja e ao Reino de Deus, e, consequentemente, confirmo a sua obrigatoriedade para a tradição latina». Neste documento, os sacerdotes são ainda recomendados a estudar e rezar em latim e a utilizar cânticos gregorianos, sobretudo nas missas internacionais. «Exceptuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina; sejam igualmente recitadas em latim as orações mais conhecidas da tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em canto gregoriano. A nível geral, peço que os futuros sacerdotes sejam preparados, desde o tempo do seminário, para compreender e celebrar a Santa Missa em latim, bem como para usar textos latinos e entoar o canto gregoriano; nem se transcure a possibilidade de formar os próprios fiéis para saberem, em latim, as orações mais comuns e cantarem, em gregoriano, determinadas partes da liturgia». O papa diz que o canto é uma manifestação de alegria e é também um sinal de amor, mas nem por isso se deve improvisar cantos ou introduzir-se géneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia.


Quanto a celebração da Missa, e no contexto da inculturação, a exortação recomenda a adaptação aos respectivos contextos e diversas culturas. Entretanto, adverte a não confundir o valor sacramental da participação eucarística através das transmissões radiotelevisivas. « Quem assiste a tais transmissões deve saber que, em condições normais (exceptua-se idosos e doentes), não cumpre o preceito dominical; de facto, a linguagem da imagem representa a realidade, mas não a reproduz em si mesma».


Por razões pastorais, as práticas de indulgências a favor próprio ou dos defuntos e a existência dum penitenciário em todas as diocese foram vivamente recomendadas neste documento papal. Os aspectos pedagógicos dos gestos, momentos e modalidades da saudação da paz e do ofertório da Missa foram recomendados a estudos dos especialistas para sua posterior readaptação e reinserção mais convenientes na celebração da Eucaristia.