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Localização: Luanda, Angola

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7.5.07

A Roma dos pobres



A cidade metropolitana de Roma é tão antiga quanto as suas «questões sociais». Diz-se que Roma actual é a terceira. Outras duas primeiras estão debaixo desta. Das coisas que aqui admiro, a «miséria escondida» de muitos pobres desta grande e reluzente urbe europea me surpreende pela negativa. Vamos aos bocadinhos. Hoje lhes narro apenas um desses rostos mendicantes de Roma, o dos ciganos.


Na rua casilina de Roma, uma das mais antigas, populosas e famosas, há um bairro desses ciganos, aqui, chamados zíngaros. Hoje, não sei bem por que razão, decidi-me por visitar aquela barraca zíngara, até porque não fica distante da nossa residência, e quase diariamente a tenho visto de longe. Inicialmente, tive receio de entrar no acampamento, mas, um garoto cigano dos seus 14 anos de idade encorajou-me. Uma vez dentro do bairro, veio-me logo a imagem dos bairros periféricos de Luanda aquando das chuvas. Casebres feitas de madeira, papelão, chapas e caxotes; lixo por todos arredores de casas; águas estagnadas pelas ruas esburacadas de terra-batida.


Por três vezes fui chamado e ameaçado pelos seus habitantes que se sentiram intimidados pela minha inprovisa presença. «O que é que fazes aqui? Será que vais arranjar isso eh?» perguntou-me, irónica, uma velha senhora. « Só vim ver com os meus olhos...», lhe retorqui. «Então por que estás tirando fotografias? Não deves fotografar nada aqui, ouviu?», atirou-me furiosamente uma outra senhora, por sinal jovem, com a sua serveja nas mãos. Tive de me conter em respostas, pois, comecei logo a imaginar que se fosse muito ousado me poderiam apedrejar.


Entretanto, encotrei aí gente muito hospitaleira. Um jovem, que aparentava estar entre os vinte e trinta anos de idade, convidou-me à sua casa. Depois, do habitual interrogatório, pediu-me que lhe tirasse algumas fotos com a sua família, pelo visto numerosa. Este jovem confessou-me residir aí há sete anos. Perguntei-lhe se trabalhava, disse-me que «sim», se os seus filhos e irmãos estudavam, disse-me igualmente «sim». Entretanto, impressionou-me alí mesmo a nudez da sua casa. Dentro, tudo estava desarrumado, melhor, vi trapos alí, panelas e sapatos acolá. No mesmo quarto havia bancos e cama. Os miúdos todos sujos, alguns brincando nos entulhos de lixo.


A electricidade existente nalgumas cubatas foi anarquicamente puxada. Não vi chafarizes de água. O governo de Roma providenciou-lhes «latrinas químicas», uma espécie de «fossas secas», talvez para «desintoxicar» a zona. Paradoxalmente, e no meio de toda essa precariedade e miséria, vi também muitos carros em quase cada casa, alguns até de luxo.


Semelhantes bairros ou barracas existem muitos não só aqui em Roma, mas por toda Itália. Alguns desses povos nómadas são autóctones, italianos, a maioria, porém, é estrangeira. Geralmente, os zíngaros são acusados de não trabalharem e passarem a vida pedindo esmolas pelas ruas da cidade ou robando bolsinhas aos turistas nos autocarros e métros.


A pobreza e a mendicidade desses nómadas me tem encuriosido muito. Por isso, e a causa da particularidade cultural desses povos, prometo caçar mais dados, a próposito, para continuar a descrever no próximo artigo esta face pobre de Roma.